Poesia Práxis
Poesia Práxis - O livros Lavra-lavra (1962) marcou o aparecimento de uma outra tendência na poesia moderna brasileira: Práxis.
Seu autor e principal representante, o poeta Mário Chamie, assim explica as características desse movimento: "opõe à palavra-coisa, do Concretismo, a palavra energia; não considera o poema como um 'objeto' estático e fechado e sim como um 'produto' dinâmico, passível de transformação pela influência ou manipulação do leitor".
Ligando a palavra e o contexto extralinguístico, a poesia Práxis estabelece uma ponte entre o poeta e a vida social, como o próprio Mário Chamie declarou: "o ato de compor implica, acima de tudo, na tomada de consciência de um projeto semântico. Isto é: o poeta, ao elaborar um poema, não deveria prender-se a esquemas formais predeterminados, deixando de lado a realidade viva e o significado humano daquilo sobre que o que ou em função do que escrevia".
Em 1962 foi o lançamento da revista Praxis, que reunia artigos e textos criativos do grupo que, além de Mário Chamie, contava com Armando Freitas Filho, Yone G. Fonseca, Arnaldo Saraiva e outros.
Outras características da poesia práxis:
AGIOTAGEM
um
dois
três
o juro:o prazo
o pôr / o cento / o mês / o ágio
Poesia Práxis - O livros Lavra-lavra (1962) marcou o aparecimento de uma outra tendência na poesia moderna brasileira: Práxis.
Seu autor e principal representante, o poeta Mário Chamie, assim explica as características desse movimento: "opõe à palavra-coisa, do Concretismo, a palavra energia; não considera o poema como um 'objeto' estático e fechado e sim como um 'produto' dinâmico, passível de transformação pela influência ou manipulação do leitor".
Ligando a palavra e o contexto extralinguístico, a poesia Práxis estabelece uma ponte entre o poeta e a vida social, como o próprio Mário Chamie declarou: "o ato de compor implica, acima de tudo, na tomada de consciência de um projeto semântico. Isto é: o poeta, ao elaborar um poema, não deveria prender-se a esquemas formais predeterminados, deixando de lado a realidade viva e o significado humano daquilo sobre que o que ou em função do que escrevia".
Em 1962 foi o lançamento da revista Praxis, que reunia artigos e textos criativos do grupo que, além de Mário Chamie, contava com Armando Freitas Filho, Yone G. Fonseca, Arnaldo Saraiva e outros.
Outras características da poesia práxis:
- Uso de neologismos
- aspectos sonoros
- termos estrangeiros
- aspectos visuais
- semântica dos vocábulos
- poema objeto dinâmico
- múltiplas leituras
- dissidência do Concretismo
Texto:
Forca na força
--------------
a palavra na boca
na boca a palavra: força
a forca da palavra força
a palavra rolha fofa
a rolha fofa sem força
a palavra em folha solta
a força da palavra forca
a palavra de boca em boca
na boca a palavra forca
a palavra e sua força
-----------------
falar na era da forca
calar na era da força
na era de falar a forca
calar na era de calar a boca
na era de calar a boca
a era de falar à força
calar a força da boca com a forca
falar a boca da forca com a força
calar falar a palavra
não na ira de era ida
falar calar a palavra
nesta ira de era viva
calar a palavra na era ida da ira
falar a palavra na viva era da vida
---------------
mas a forca da palavra força
: um cedilha em sua boca
(Mário Chamie. Objeto Selvagem)
O poeta desenvolveu o texto por meio das permutações fonéticas e da exploração das possibilidades semânticas de algumas palavras-chaves, tais como: forca/força; rolha/folha; falar/calar; era/ira.
Essas palavras constituem um campo semântico explorado pelo autor, que desenvolveu o poema a partir da constatação de que "na era de calar a boca" é "a era de falar à força".
Outros poemas de Mário Chamie:
AGIOTAGEM
um
dois
três
o juro:o prazo
o pôr / o cento / o mês / o ágio
p o r c e n t a g i o.
dez
cem
mil
o lucro:o dízimo
o ágio / a mora / a monta em péssimo
e m p r é s t i m o.
muito
nada
tudo
a quebra:a sobra
a monta / o pé / o cento / a quota
h a j a n ota
dez
cem
mil
o lucro:o dízimo
o ágio / a mora / a monta em péssimo
e m p r é s t i m o.
muito
nada
tudo
a quebra:a sobra
a monta / o pé / o cento / a quota
h a j a n ota
agiota.
O TOLO E O SÁBIO
O sábio que há em você
não sabe o que sabe
o tolo que não se vê.
Sabe que não se vê
o tolo que não sabe
o que há de sábio em você.
Mas do tolo que há em você
não sabe o sábio que você vê.
não sabe o que sabe
o tolo que não se vê.
Sabe que não se vê
o tolo que não sabe
o que há de sábio em você.
Mas do tolo que há em você
não sabe o sábio que você vê.
Poesia Social (1950/1960)
Nas décadas de 50 e 60, principalmente, alguns poetas manifestaram-se contrários aos excessos de teorização e experimentalismo que caracterizavam a poesia de vanguarda.
Propondo a volta à linguagem discursiva, num estilo simples e direto, esses poetas pretenderam representar, na poesia, o quotidiano sofrido do homem comum, os momentos difíceis da situação política; enfim, buscaram realizae uma arte mais facilmente comunicativa, que expressasse a posição do autor diante da vida e dos problemas imediatos.
Dentre os autores que definiram por essa direção há, por exemplo, alguns que tinham participado, inicialmente, dos objetivos da geração de 45 (Geir Campos) e outros que se manifestaram nos anos seguintes (Tiago de Melo, Moacir Félix) e, sobretudo, Ferreira Gullar, que, tendo iniciado sua atividade como concretista, rompeu mais tarde com o grupo, aderindo à poesia social.
Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.
(Ferreira Gullar.Antologia Poética, Rio de Janeiro, Fontana)
Verbo caber = assunto, abordagem do poema
Sonegação = substantivo abstrato, tem valor de conteúdo moral (denúncia) e significa fraudar, furtar.
A 1° estrofe tem ritmo liberado, irregular, as vírgulas de todos os versos foram extraídas. Estrutura em paralelo dos versos finais, com uso da preposição cadenciando o poema.
Os sujeitos que não cabem no poema: o funcionário público e o operário.
O funcionário público com a vida em recinto, fechada (vida burocratizada) é apenas um números nos fichários estatais.
O operário ao esmerilar o seu "dia de aço" (difícil, duro), embora com um trabalho indispensável à sociedade, é sinônimo da invisbilidade.
"- porque o poema senhores, está fechado". (ironia). O poema está insensível, indiferente.
"Não há vagas": falta de oportunidade.
O "homem sem estômago" = aquele que não se importa com as preocupações, não se volta para as questões básicas de subsistência.
"mulher de nuvens" é a mulher idealizada, objeto de abstração, admirada nas formas se exposta na obra de arte. É ironização aos poetas parnasianos que são indiferentes à vida, ao quotidiano das pessoas comuns.
Versos finais: O poema "não fede nem cheira" = o poema que idealiza a vida tanto faz existir ou não, é indiferente.
O poema " Não há vagas", se refere à poesia do passado e do presente, o texto, como andamento metalinguístico, discute a própria poesia. Está se discutindo a função da poesia e para que ela serve.
Mensagem: a poesia não deve deixar de abordar questões sociais, nela sim "há vagas" para os dramas diários.
Sentido real da poesia: o contrário do que nele é dito.
Ferreira Gullar
Subversiva
A poesia
Quando chega
Não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos
Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha
Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.
E promete incendiar o país.
(Ferreira Gullar)
Subversiva
A poesia
Quando chega
Não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos
Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha
Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.
E promete incendiar o país.
(Ferreira Gullar)
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