quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Concordância verbal - concordância nominal

 Concordância verbal  - concordância nominal


 Concordância é o mecanismo pelo qual as palavras alteram suas terminações para se adequarem harmonicamente umas as outras dentro da frase. Há dois tipos de concordância: verbal e nominal.

 Concordância verbal: O verbo altera suas desinências para se ajuste em pessoa e número ao sujeito.

 Concordância nominal: Adjetivo, artigo, numeral, adjetivo e pronome adjetivo alteram suas desinências para se ajustarem, em gênero e número, ao qual se refere.

 Exemplos de concordância verbal:

 1.Havia muitos alunos na escola.
 Havia = existir (verbo impessoal, ele não varia).

 2.Aqui faz verões terríveis.
 Verbo fazer - impessoal (o verbo não concorda com verões, já que a oração é sem sujeito).

 3.Tito era as delícias de Roma.
    suj.
 Verbo concordando com o sujeito.

 4.Uma indignação, uma raiva profunda, um ódio mortal dominou-o.
 Núcleos do sujeitos dispostos em gradação, verbo no singular.

 5.Trabalhar e estudar fazia dele um homem feliz.
 Sujeito formado por dois infinitivos, verbo no singular.

 6.Rir e chorar se alternam.
 Mas se os infinitivos exprimem ideias opostas, ocorrerá plural.

 7.Precisa-se de secretárias.
 Verbo acompanhado pelo índice de indeterminação do sujeito se, o verbo fica obrigatoriamente no singular.

 8.Vendem -se casas na praia.
 Verbo com pronome apassivador - quando vem acompanhado pela partícula apassivadora se, o verbo concorda normalmente com o sujeito expresso na oração.

 9. Fui eu que falei.
 Sujeito é pronome relativo que, o verbo concorda com o antecedente do pronome relativo.

 10. "Passará o céu e a terra."
 Concordância atrativa.

 11. Vossa excelência agiu com moderação.
 Pronomes de tratamento exigem o verbo na 3° pessoa.

 12. Alunos, mestres, diretores, ninguém faltou.
 Sujeito composto resumido por palavras como: tudo, nada, ninguém etc. o verbo concorda obrigatoriamente com a palavra resumitiva.

 13. Eu, tu e ele resolvemos o exercício.
 Sujeito composto formado por pessoas diferentes, entre elas há 1° pessoas do singular o verbo vai obrigatoriamente para a 1° pessoa do plural.

 14. Um ou outro jogador marcará o gol.
       Nem um nem outro aluno fez o exercício.
 As expressões um ou outro / nem um nem outro exigem verbo no singular.

 15. A multidão aplaudiu a linda jogada.
 Quando o sujeito é um coletivo, o verbo fica no singular.
       A multidão de fanáticos torcedores aplaudiu/aplaudiram a linda jogada.
 Se o coletivo vier especificado, o verbo pode ficar no singular ou ir para o plural (Com o coletivo no plural, a concordância é atrativa).

 Exemplos de concordância nominal:

 1.Fábio está quite com o serviço militar.
     Suj.
 Quite concorda normalmente com o vocábulo a que se refere, neste caso é com o sujeito.

 2. Elas viajaram sós.
     Suj.
 Sós concorda com o sujeito. A locução a sós é que não varia.
     A menina está a sós.

 3. É proibida entrada a pessoas estranhas.
 Nesta frase, entrada é um substantivo determinado, concorda com entrada.
     É proibido entrada.
 O substantivo não está determinado, a frase está correta.

 4. Vão anexos os retratos.
                                Suj.
 Anexo: concorda com o sujeito.
     Vão em anexo os documentos.
 A locução em anexo não varia.

 5. As meninas chegaram todo molhadas.
 Esta é a forma culta da língua portuguesa, apesar de não ser usada é importante registrar. Todo é sinônimo de totalmente.

 6. Aqui há menos bagunça do que lá.
 A palavra menos é invariável, portanto, não haverá feminino, singular, diminutivo etc. desta palavra.

 7. A professora está meio rouca.
 Meio: advérbio - não varia.
     É meio dia e meia.(hora)
 Neste caso há concordância com o substantivo a que se referem.

 8. Os jogadores estão usando camisas laranja.
 Substantivos empregados como adjetivos ficam invariáveis.
     Os jogadores estão usando camisas azuis.
 Azul é nome de cor, varia.

 9. O garoto é tal qual o pai.
 O tal  concorda para a esquerda e o qual para a direita.
     Os garotos são tais quais os pais.
     Os garotos são tais qual o pai.
     O garoto é tal quais os pais.

 10. Houve uma festa monstro aqui.
 Monstro - substantivo = invariável
 Monstruoso - adjetivo = variável

 11. Bastantes alunos passarão no concurso vestibular.
 Bastante - pronome adjetivo indefinido = varia
       Há vários dias chove bastante.
 Bastante - advérbio = não varia

 12. Salada é muito gostoso.
 Não há concordância, salada está em sentido genérico pois não há artigo para a concordância.
       A salada é muito gostosa.
 Agora há concordância pois há o artigo para concordar.

 13. Elas fizeram mesmo a prova.
 Mesmo - quando equivale a realmente , de fato, não varia.
       Elas mesmas fizeram a prova.
 Neste caso, elas próprias, há variação.

 14. Andei longes terras. (adjetivo - varia)
       Elas moram longe.(advérbio - não varia)

 15. Vi paisagens o quanto possível belas.
 A expressão quanto possível não varia.


   


   
   




   
































































































































































domingo, 2 de outubro de 2011

Análise do livro O Cortiço

 O melhor exemplo do romance naturalista brasileiro é O Cortiço, de Aluísio Azevedo, publicado em 1890.
 Uma ampla galeria de tipos humanos desfila pelas páginas do romance: lavadeiras, operários, prostitutas, mascates, todos representantes de uma população marginal, que vive num ambiente degradado e corruptor. Na verdade, o cortiço parece adquirir vida própria, determinando o comportamento dos que ali moram, como é o caso de pombinha, menina pura e simples, não resiste às pressões do meio acaba por se prostituir, Jerônimo, aldeão português, foi morar no cortiço com a mulher e a filha, ele foi arrebatado por uma paixão sensual por Rita Baiana, o português abandonou a família e a vida simples que levava.
 O narrador focaliza a ascensão do português João Romão, dono do cortiço e também uma pedreira cujos empregados, além de morar nos casebres por ele alugados, endividavam-se ao comprar fiado em sua venda.
 Através dessa exploração, João Romão vai se enriquecendo, auxiliado por sua amante e empregada, a escrava fugida Bertoleza, para quem ele havia forjado uma carta de alforria. O maior desejo do vendeiro é adquirir boa posição social, como a de seu patrício Miranda, que mora no sobrado encostado ao cortiço. Movido pela ambição, não hesita em usar de todos os recursos para acumular fortuna e ficar noivo da filha de Miranda. Para livrar-se de Bertoleza, que era um obstáculo às suas ambições, denuncia sua fuga aos antigos donos, que vão buscá-la com a polícia. A escrava, porém, percebendo a traição, suicida-se.
 Acompanhando a evolução social de João Romão, o cortiço também se desenvolve, transformando-se na Avenida São Romão, com uma aparência mais cuidada, e a população miserável reúne-se em outro cortiço, o Cabeça de Gato.
 Aluísio Azevedo, influenciado por Émile Zola (escritor francês e criador do movimento naturalista), e por Eça de Queirós (responsável pela introdução do Realismo em Portugal). A influência de Zola foi a caracterização das personagens e Eça de Queirós correção nas descrições das personagens e a denúncia da corrupção moral, hipocrisia da burguesia e do clero, chamando a atenção para problemas sociais de forma polêmica.

 Romance das sensações - A linguagem de Aluísio organiza as personagens pela sensibilidade, a sensação olfativa é um dos elementos estruturadores dos seus enredos.

 Romance social - A presença marcante das ideias científicas da época sobre a influência decisiva da hereditariedade e do meio ambiente no comportamento humano, tornando o homem um produto direto de sua constituição psicofisiológica (relações mentais e funções físicas) e das pressões sociais.

 Ambição: A exploração do homem pelo próprio homem.
 As personagens são apresentadas como um problema social urbano, são dois blocos de personagens, duas classes sociais, o cortiço X o sobrado da família Miranda.

 Narração: Predomínio da narrativa - discurso indireto livre, a narração é feita em 3° pessoa e o narrador é onisciente (tem o conhecimento de tudo). 

 Predominância de pontuações: (Diálogo entre Marciana e João Romão).
 -De acordo, mas o tratante cegou-me! Que havemos de fazer?... É ter paciência!
 -Pois então ande com o dote!
 -Bêbada, hein? Ah, corja! tão bom é um como o outro! Mas eu hei de mostrar!
 -Ora, não me amole!
 Aluísio Azevedo utilizou-se das pontuações para dar um ritmo às narrações, principalmente  o uso frequente das exclamações.


 Vulnerabilidade sexual - A sexualidade em O Cortiço é algo natural nos seres humanos. As formas de lidar com ela variam de acordo com o grupo social a que pertencem. As camadas sociais mais pobres são mais vulneráveis ao ponto de vista sexual, são vítimas de exploração, gravidez indesejada, agressões.


 Teses naturalistas imersas no determinismo: O determinismo científico equipara o homem ao animal, a força dos instintos e o meio que determina a ação e a caracterização das personagens.
 "A primeira que se pôs a lavar foi a Leandra, por alcunha a 'Machona', portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do campo."
 "... a filha tinha quinze anos, a pele de um moreno quente, beiços sensuais, bonitos dentes, olhos luxuriosos de macaca."
 "No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem saber de onde; grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas."


















domingo, 7 de agosto de 2011

Rima

 Rima é a identidade ou semelhança de sons no final ou no meio dos versos. É um recurso melódico mas não essencial ao poema. Por ser um elemento secundário, muitos poetas escreveram ou escrevem poemas em versos brancos (sem rimas).

 1. Rimas alternadas - abab:

 "De muita gente que existe,  a
 Que nós julgamos ditosa,     b
 Toda a ventura consiste       a
 Em parecer venturosa."        b


                                                            (Quadra popular)

 2. Rimas emparelhadas - aabb:

 "Gôndola branca no alto mar,   a
 No céu a Lua vem vogar...        a
 Embora seja céu de estio,         b
 As estrelas morrem de frio."      b


                                                            (Alphonsus de Guimaraens)

 3. Rimas interpoladas - abba:

 "Que nestas serras e campos a
 Nossa Senhora, escondida,    b
 Só sai à noite, vestida             b
 De estrelas e pirilampos."       a

                                                            (Ribeiro Couto)

 Rimas pobres, ricas, raras e preciosas.
















 Rimas pobres são consideradas rimas pobres as rimas de palavras da mesma classe gramatical (dois versos, dois adjetivos, dois substantivos etc.).
 Ex.: mente - docemente, tristemente
        ão - coração, irmão
        eza - tristeza, beleza

 Rimas ricas - as rimas ricas são formadas com palavras de classes gramaticais diferentes, que têm algo novo.
 Ex.: escura e formosura - escura (adjetivo) formosura (substantivo) têm rima rica pois são de categorias gramaticais diferentes.
 dele e aquele / brilha e maravilha / fibra e vibra etc.

 Rimas raras - Uma rima é rara quando as palavras são difíceis de encontrar uma rima possível.
 Ex.: cisne e tisne / estirpe e extirpe / flórido e rórido / turco, murco, furco, urco.

 Rimas preciosas - São rimas artificiais, formadas por palavras combinadas.
 Ex.: múmia e resume-a / résteas e vésteas / águia e alague-a.

 "Mandou-me o senhor vigário
 que lhe comprasse uma lâmpada
 para alumiar a estampa da
 Senhora do Rosário."

 Guimarães Passos (Dicionário de rimas, livraria Francisco Alves, Rio, 1913)






                                         










 Rimas agudas, esdrúxulas e graves


 É a posição do acento tônico, a rima coincide com a palavra final do verso.
 Rimas agudas - formadas por palavras agudas ou oxítonas.
 Rimas esdrúxulas - formadas por palavras esdrúxulas ou proparoxítonas.
 Rimas graves - formadas por palavras graves ou paroxítonas.


 O que tu chamas tua paixão,
 É tão-somente curiosidade
 E os teus desejos ferventes vão
 Batendo asas na irrealidade.
                                                                                          (Manuel Bandeira)


 As rimas paixão / vão = são agudas
 As rimas curiosidade / irrealidade = são graves


 É um flamejador, dardânico
 uma explosão de rápidas ideias,
 que com um mar de estranhas odisseias
 saem-lhe do crânio escultural, titânico!...
                                                                                            (Cruz e Sousa)


 As rimas dardânico / titânico = são esdrúxulas
 As rimas ideia / odisseia = são graves


                                                Versos, sons ritmos (Norma Goldstein)
















  
    


                     

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Versificação

 A técnica e a arte de fazer versos chama-se versificação. Em Língua Portuguesa, compõem-se versos de duas até doze sílabas, são poucos os versos compostos por uma ou duas sílabas.


 1. Versos monossílabos - só têm uma sílaba forte.

 Rua
 torta.

 Lua
 morta.

 Tua
 porta.
                              Cassiano Ricardo

 2. Dissílabos

 Um raio
 Fulgura
 No espaço
 Esparso
 De luz.

                              Gonçalves Dias

 3. Trissílabos

 Foge, bicho
 Foge, povo
 Passa ponte
 Passa poste
 Passa pasto
 Passa boi

                              Manuel Bandeira

 4. Tetrassílabos

 O inverno brada
                   4
 forçando as portas...
                  4
 Oh! que revoada
                 4
 de folhas mortas
                  4
 o vento espalha
                       4
 por sobre o chão...

                              Alphonsus de Guimaraens

 5. Pentassílabos ou redondilha menor

 Dorme o pensamento.
                           5
 Riram-se? Choraram?
                         5
 Ninguém mais recorda.
                           5

                             Cecília Meireles

 6. Hexassílabos

 Há noite? Há vida? Há vozes?
                                     6
 Que espanto nos consome
                                  6
 de repente, mirando-nos?
                       6
 Alma, como é teu nome?
                              6

                              Cecília Meireles

 7. Heptassílabos ou redondilha maior -  Com relação às leis métricas, os versos com sete sílabas são os mais simples. É muito comum nas quadrinhas e canções populares. A última sílaba pode ser acentuada, os demais acentos podem cair em qualquer outra sílaba. É um verso tradicional em Língua Portuguesa, frequente nas cantigas medievais.

 Como pode o peixe vivo
                                 7
 Viver fora da água fria?
                              7
 Como poderei viver
                           7
 Sem a tua companhia?
                             7

                              Cantiga de roda

 8. Octossílabos

 No ar sossegado, um sino canta...
                                         8
 Um sino canta no ar sombrio...
                                        8

                              Olavo Bilac

 9. Eneassílabos

 Ó guerreiros da taba sagrada,
                                 9
 Ó guerreiros da tribo tupi!
                                      9
 Falam deuses nos cantos do piaga!
                                             9
 Ó guerreiros, meus cantos ouvi!

                              Gonçalves Dias

10.  Decassílabos ou heróicos - Foi um dos versos preferidos pelos poetas clássicos do século XVI.

 Mas já o planeta que no céu primeiro
                                                    10
 Habita, cinco vezes, apressada,
                                        10

                              Luís de Camões

 11. Endecassílabos

 Alvas pétalas do lírio de tua alma...
                                          11
 Astros, nuvens, madrugadas, aves, flores...
                                                        11

                              Hermes Fontes

 12. Dodecassílabos ou Alexandrino - O verso de doze é longo e foi muito utilizado pelos poetas clássicos e parnasianos.

 Subirão até Deus, nas asas da oração.
                                                     12

                              Alberto de Oliveira

 Revoavas ao tropel dos índios e das feras!
                                                          12

                              Olavo Bilac

 Versos bárbaros - São raros os versos com mais de doze sílabas



 Amor aos dezenove, saudade aos quarenta anos. 13

                              Francisco Otaviano

 Abre uma orquídea gloriosamente sorrindo ao sol... 14

                              Alberto de Oliveira

 Cada tipo de verso tem um ritmo próprio. O ritmo resulta da sucessão ou alternância regular de sílabas tônicas (fortes) e sílabas átonas (fracas). É o elemento melódico do verso, importante e essencial à poesia.





Número de sílabas poéticas
Sílabas acentuadas *
uma
1
duas
2
três
3 ou 1 e 3
quatro
1 e 4 ou 2 e 4
cinco
2 e 5 ou 3 e 5 ou 1, 3 e 5
seis
3 e 6 ou 2 e 6 ou 2, 4 e 6 ou 1, 4 e 6
sete
Qualquer sílaba e última
oito
4 e 8 ou 2, 6 e 8 ou 3, 5 e 8 ou 2, 5 e 8
nove
4 e 9 ou 3, 6 e 9
dez
6 e 10 ou 4, 8 e 10
onze
5 e 11 ou 2, 5, 8 e 11 ou 2, 4, 6 e 11
doze
6 e 12 ou 4, 8 e 12 ou 4, 6, 8 e 12



* Sílabas acentuadas são aquelas que apresentam maior intensidade quando são pronunciadas no verso.











                                     






















   




    

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Ambiguidade ou anfibologia

 Ambiguidade ou anfibologia - É o vício da construção frasal que apresenta mais de uma interpretação. Em muitos casos, a ambiguidade provém de problemas de construção pelo uso indevido da coordenação ou má colocação das palavras:

 1. Encha seu filho de bolachas!
 É para dar biscoitos ou encher o menino de tapas?

 2. Pare de fumar correndo!
 É para deixar de fumar fazendo uma corrida ou parar de fumar rapidamente?

 3. Se o seu carro não pega, faça uma ligação direta.
 Tem que fazer uma ligação direta para o carro voltar a funcionar ou telefonar logo para alguém consertar?

 4. Ninguém esperava minha indicação para o cargo.
 Que eu fizesse a indicação ou que eu fosse indicado?

 5. A moça encontrou a irmã atrasada.
 Quem estava atrasada? a moça ou a irmã?

 6. O repórter entrevistou o escritor resfriado.
 Quem estava resfriado? o repórter ou o escritor?

 7. Ele comprou o carro rápido.
 Ele comprou o carro rapidamente, imediatamente ou o carro é rápido?

 8. A vítima deixou o diário dentro do armário secreto.
 Quem era secreto? o diário ou o armário?

 9. A empregada retirou o cobertor do armário sujo.
 O que estava sujo? o cobertor ou o armário?

 10. Fiel e valente, o guarda conta com a ajuda de seu cachorro.
 O guarda ou o cachorro é fiel e valente?

 11. Eu vi o artista com um binóculo.
 Eu estava com um binóculo ou era o artista?

 12.A mãe visitou a filha adoentada.
 Quem estava doente? a mãe ou a filha?

 13. Ela meteu a mão na massa para fazer a comida.
 Trabalhou com afinco ou misturou a massa, fez a receita?

 14. A empregada levou tempo para tirar a mesa.
 Retirou a mesa do lugar ou arrumou, desfez a mesa?

 15. Sempre gostei de preto no branco.
 São as cores preto e branco combinando ou gosta das ações, maneira de viver corretas?

 16. Ela não conseguiu a linha que desejava.
 Era linha para costurar ou linha telefônica?

 17. A empregada botou as mãos nas cadeiras.
 As cadeiras  (objetos)  aquelas que usamos para nos sentarmos ou eram as cadeiras da empregada? (cintura).

 18. Suas ações lhe trouxeram riqueza.
 São ações da Bolsa de Valores ou são as ações atitudes?

 19. O gráfico veio com a capa na mão.
 Capa de revista ou capa que ele usa no local de trabalho?

 20. Aquela não era a cadeira da Universidade que mais lhe agradava.
 Cadeira (móvel) ou a disciplina?

 A ambiguidade na Literatura

 Ambiguidade na Literatura não é pelo uso da má formação de palavras ou erro de construção frasal. Como Literatura é a arte da palavra, os poetas e escritores têm liberdade para criar suas obras para que o leitor possa ter várias reações e refletir.
 Um autor que costuma apresentar ambiguidade em suas obras é Machado de Assis. Na obra Dom Casmurro não adianta discutir se houve  adultério ou não e sim a narrativa ambigua Machadiana, repleta de dualismos do ser humano, conceitos morais e  contradição. Nunca saberemos se Capitu era maquiavélica, "olhos de cigana oblíqua e dissimulada", sedutora e capaz de trair ou se era simplesmente inocente, pois ninguém tem provas nem existem testemunhas da traição de Capitu.
 Em Dom Casmurro temos:
 verdade x realidade
 dualismo do ser humano x natureza do ciúme
 mal x bem

 Com a ambiguidade nas obras de Machado de Assis, não sabemos o que é bom ou mal, o que é real ou ficcção e qual o sentido exato das palavras.

Machado de Assis

 Outro autor que apresenta ambiguidade em suas obras é Álvares de Azevedo, sua obra influenciada por sua personalidade adolescente, revela ambiguidade:

 aspiração aos amores virginais x descrição da mulher erotizada
versos mórbidos x versos com humor
desejo carnal x sentimento amoroso

 Trecho de Soneto:

 "Era a virgem do mar! na escuma fria
 Pela maré das águas embalada!
 Era um anjo entre as nuvens d'avorada
 Que em sonhos se banhava e se esquecia!

 Era mais bela! o seio palpitando...
 Negros olhos as pálpebras abrindo...
 Formas nuas no leito resvalando..."

 No quarteto o poeta aspira ao amor virginal e no terceto ele descreve a mulher erotizada.

 Trecho de O poeta moribundo:

 "Poetas! amanhã ao meu cadáver
 Minha tripa cortai mais sonorosa!...
 Façam dela uma corda e cantem nela
 Os amores da vida esperançosa!"

 Trecho de Namoro a cavalo:

 "Eu moro em Catumbi. Mas a desgraça
 Que rege minha vida malfadada
 Pôs lá no fim da rua do Catete
 A minha Dulcinéia namorada.

 Alugo (três mil réis) por uma tarde
 Um cavalo de trote (que esparrela!)
 Só para erguer meus olhos suspirando
 À minha namorada na janela..."

 Tanto em O poeta moribundo, quando em Namoro a cavalo, evidentemente observamos características do romantismo byronista, mas devemos perceber que a abordagem é ambígua pois ora Álvares de Azevedo põe humor, ora pensamentos sobre a morte.

 Dificuldade de conciliar o desejo carnal com o sentimento amoroso:

 Trecho de Lira dos Vinte anos

Álvares de Azevedo
 Era uma noite - eu dormia
 E nos meus sonhos revia
 As ilusões que sonhei!
 E no meu lado senti...
 Meu Deus! por que não morri?
 Por que do sono acordei?
 No meu leito - adormecida
 Palpitante e adormecida
 Palpitante e abatida,
 A amante de meu amor! (...)                          


sexta-feira, 22 de abril de 2011

Funções da linguagem

 Funções da linguagem - O objetivo das funções da linguagem é compreendermos e usarmos o sistema simbólico das diferentes formas de comunicação: cognitiva, constituição de significados, expressão, informação e comunicação.

 Elementos da comunicação


 Referente (assunto) - Contexto relacionado ao emissor e receptor.

 Mensagem - Conteúdo transmitido pelo emissor.

 Emissor - Emite, codifica a mensagem.

 Receptor - Recebe, decodifica a mensagem.

 Código - Conjunto de signos, transmissão e recepção da mensagem, linguagem utilizada.

 Canal - Meio onde a mensagem é transmitida: livros, jornais, revista, fala etc.

 Funções da linguagem

 Função referencial - Também conhecida como cognitiva, informativa ou representativa.
  • A mensagem se refere a coisas reais
  • É a expressão linguística do livro científico e do texto jornalístico
  • A linguagem é utilizada para transmitir informações sobre a realidade
  • Centrada no contexto
  • Predomínio da razão
  • É denominada como função cognitiva
  • Dá ênfase à 3° pessoa do discurso
  • Objetividade
 "Quando chegou a casa, deixou o cavalo sob a árvore e foi receber o amigo."
 "O cinema é uma das maiores invenções dos últimos tempos." ( não confundir com função metalinguística, pois a frase não explica o que é cinema e sim faz uma referência a ele).

 Função metalinguística 
  • É o uso da língua para explicar termos do código
  • A linguagem é utilizada para definir, explicar ou traduzir elementos de um idioma
  • Centrada no código
  • É a linguagem utilizada nos verbetes dos dicionários
  • Definições cumprem a função
  • Linguagem comum nas propagandas e sinais de trânsito
  • Metalinguagem é  ato de dar uma explicação
  • O texto fala de si mesmo (poesia que fala de poesia, reportagem que fala de reportagem etc.)
 "Literatura é a arte da palavra".
 "O livro é uma publicação encadernada, de formatos diversos e com um número indefinido de páginas."

 Função fática - também chamada de função de contato.
  • As mensagens servem para estabelecer, prolongar ou interromper a comunicação
  • As mensagens são fórmulas altamente ritualizadas, vazias de conteúdo informativo
  • A linguagem é utilizada para estabelecer o contato entre a fonte e o receptor e para testar o funcionamento do canal
  • Centrada no contato ou canal
  • É a linguagem dos bate-papos, das conversas ao telefone
  • Avaliar o nível de entendimento
 Bom dia, compadre. Tudo bem?
 Alô! Quem fala?

 Função emotiva - ou expressiva
  • A mensagem visa a provocar reações do tipo emotivo, a exprimir a emoção do falante
  • Caracteriza-se pelo uso de interjeições, exclamações, diminutivos afetivos
  • A linguagem é utilizada para expressar sentimentos
  • A linguagem é utilizada para expressar emoções, estado d'alma da pessoa que fala
  • Nela predomina a sensibilidade
  • Realça a 1° pessoa do discurso
  • Visão intimista
  • Preocupação com o "eu"
 Que fim de mundo!
 Minha mãezinha querida!

 Função poética - ou estética
  • Consiste no emprego de recursos que deem maior expressividade para a mensagem
  • A linguagem é utilizada de forma peculiar, diferente, artística, criativa
  • Centrada na mensagem
  • É a linguagem empregada nos textos literários, onde predomina a conotação, o sentido figurado, a linguagem bem trabalhada
  • Jogo de palavras
  • Provoca impacto visual, emotivo ou sonoro
 "Que nestas serras e campos
 Nossa Senhora, escondida,
 Só sai à noite, vestida
 De estrelas e pirilampos"
                                                               (Ribeiro Couto)

 Função Conativa - também chamada de apelativa ou imperativa
  • A mensagem representa uma ordem, súplica, aconselhamento
  • A linguagem é utilizada com o propósito de atuar sobre o receptor
  • Centrada no receptor
  • Na frase imperativa predomina a função
  • Apelar
  • Convidar
  • Ordenar
  • Convencer
  • Enfatiza a 2° pessoa do discurso
  • Comum em discursos políticos e mensagens publicitárias
 Senhores, tenham mais responsabilidade nos teus atos!
 Deus, ó Deus, onde estais que não respondes?
Compre aqui, é mais barato!

 Pode ocorrer mais de uma função de linguagem em uma frase ou período:

 -"Espere aí, compadre!/ Tenho uma encomendazinha para você levar pros seus meninos."
         apelativa                           emotiva

 "Há! Todo o cais é uma saudade de pedra."
 emotiva/ poética



















































































































segunda-feira, 4 de abril de 2011

Denotação e Conotação

 Denotação e Conotação

 Denotação - é o emprego de uma palavra no seu sentido próprio (sentido denotativo). Ex.: O médico operou o coração do menino. Coração tem o sentido real.

 Conotação - é o emprego de uma palavra em sentido figurado (sentido conotativo). É o sentido que a palavra adquire dentro de um contexto. Ex.: A Língua Portuguesa é o coração da cultura brasileira. Coração tem sentido figurado.



Denotação   X  Conotação

Denotação
Significado restrito,
impessoal
Palavra:sentido do dicionário
Linguagem simples, precisa, impessoal
Valor usual
Conotação
Significado amplo, vários sentidos
Palavra:sentidos diversos, transpõem o sentido comum
Linguagem literária, expressiva, modo criativo, artístico
Valor literário


 Frases com sentido denotativo (D) e sentido conotativo (C):

 O menino quebrou a vidraça. D
 O aluno quebrou o silêncio. C


 Eles saíram à caça da raposa. D
 Aquele advogado é uma raposa. C

 A mãe de Bernardo estava na cozinha. D
 A preguiça é a mãe de todos os vícios. C


 Uma pedra rolou da encosta. D
 Você é uma pedra no meu sapato. C

 As estrelas do céu brilhavam. D
 As estrelas do cinema brilhavam. C


 O coração bombeia o sangue e o faz circular por todo o corpo. D
 Construíram a cidade no coração do país.









 Hoje fez muito frio. D
 Ele era um homem frio e calculista. C

 O blusão está seco. D
 Aquele homem é muito seco. C

 Ela fez plástica no nariz. D
 Ele mete o nariz em tudo.C











 A casa de Augusto pegou fogo. D
 O fogo da paixão crescia. C

 Maré alta sob a lua cheia. D
 Não adianta remar contra a maré. C

  O sapo é um anfíbio. D
  Ele está cansado de engolir sapo. C

 Luisinho adora comer pão. D
 O ordenado dele mal dava para garantir o pão de cada dia. C







 Felipe cavou um poço de 20 metros. D
 Juliana é um poço de bondade. C


 Laura tem olhos azuis. D
 Comer com os olhos. C






 

 A denotação e conotação na literatura:

 Belo é o mundo

 "Belo é o mundo. D
 Belos os campos, vales e cidades. D
 Mas cega é a carne. C
 E cega é a alma..." C
                                                ( Alphonsus de Guimaraes Filho)

 "neste lance, por ser o derradeiro,
 pois vejo minha vida anoitecer, C
 é, meu Jesus, a hora de se ver
 a brandura de um pai, manso cordeiro"...
                                                       
                                                 ( Gregório de Matos)

 Pororoca

 "Noite pontual. C
 Lua cheia apontou, pororoca roncou. C
 Vem que vem vindo como uma onda inchada. C
 rolando e embolando. D
 com a água aos tombos..." C

                                                ( Raul Bopp)

 Cantigas praianas

 "...Beijando a areia, batendo as fráguas, C
 Choram as ondas; choram em vão: C
 O inútil choro das tristes águas C
           Enche de mágoas
           A solidão..."

                                               ( Vicente de Carvalho )

  Soneto de abril

 "Agora que é abril, e o mar se ausenta, C
 secando-se em si mesmo como um pranto, C
 vejo que o amor que te dedico aumenta. D
 seguindo a trilha de meu próprio espanto..." C

                                                  ( Ledo Ivo)







sábado, 26 de março de 2011

Fábula


Fábula




 Fábula - É a narração em que, geralmente, as personagens são animais, e que tem por objetivo demonstrar um ensinamento, tal ensinamento é a moral ou moralidade da história.
  • Apresenta virtudes e defeitos dos seres humanos através de animais, por meio deles, os autores de fábulas fazem críticas e instruem divertindo.
  • Fusão: lúdico e pedagógico.
  • Instrumento de formação de caráter.
  • Forma fácil de passar  conceitos.
  • Gênero narrativo em que prende a atenção, pelo fato de ser curto e muito eficiente no entretenimento.
  • Inverossímil (inacreditável, improvável).
  • Abordagens: bondade x astucia, bem x mal, fraqueza x força, querer x poder etc.
  • Versatilidade: temas variados - emoção, humor, sátira, ironia etc.

Contos de fábulas

 O ratinho, o galo e o rato

 Certa manhã, um ratinho saiu do buraco pela primeira vez. Queria conhecer o mundo e travar relações com tanta coisa bonita de que falavam seus amigos.
 Admirou a luz do sol, o verdor das árvores, a correnteza dos ribeirões, a habitatação dos homens. E acabou penetrando no quintal duma casa da roça.
 -Sim senhor! é interessante isto!
 Examinou tudo minuciosamente, farejou a tulha de milho e a estrebaria. Em seguida notou no terreiro um certo animal de belo pelo que dormia sossegado ao sol.
 Aproximou-se dele e farejou-o sem receio nenhum.
 Nisto aparece um galo, que bate as asas e canta.
 O ratinho por um triz  que não morreu de susto. Arrepiou-se todo e disparou como um raio para a toca. Lá contou à mamãe as aventuras do passeio.
 - Observei muita coisa interessante - disse ele - mas nada me impressionou tanto como dois animais que vi no terreiro. Um, de pelo macio e ar bondoso, seduziu-me logo. Devia ser um desses bons amigos da nossa gente, e lamentei que estivesse a dormir, impedindo-me assim de cumprimentá-lo. O outro...Ai, que ainda me bate o coração! O outro era um bicho feroz, de penas amarelas, bico pontudo, crista vermelha e aspecto ameaçador. Bateu as asas barulhentamente, abriu o bico e soltou um có-ri-có-có tamanho que quase caí de costas. Fugi. Fugi com quantas pernas tinha, percebendo que devia ser o famoso gato que tamanha destruição faz no nosso povo.
 A mãe-rata assustou-se e disse:
 - Como te enganas, meu filho! o bicho de pelo macio e ar bondoso é que é o terrível gato. O outro, barulhento e espaventado, de olhar feroz e crista rubra, o outro, filhinho, é o galo, uma ave que nunca nos fez mal nenhum. As aparências enganam.
 Aproveita, pois a lição e fica sabendo que "Quem vê cara não vê coração".

      ( Lobato, Monteiro, Fábulas. In: Obras completas. Brasiliense, 1970 v4 p.35/36)



 O burro juiz


 Disputava a gralha com o sabiá, afirmando que a sua voz valia a dele. Como as outras aves rissem daquela pretensão, a bulhenta matraca de penas, furiosa, disse: Nada de brincadeiras. Isto é uma questão muito séria, que deve ser decidida por um juiz. Canta o sabiá, canto eu, e a sentença do julgador decidirá quem é o melhor artista. Topam?
 -Topamos! Piaram as aves. Mas quem servirá de juiz? 
 Estavam a debater este ponto, quando zurrou um burro. -Nem de encomenda! exclamou a gralha. Está lá um juiz de primeiríssima para julgamento de música, pois nenhum animal possui maiores orelhas. Convidêmo-lo. Aceitou o burro o juizado e veio postar-se no centro da roda.
 -Vamos lá!, comecem! ordenou ele.
 O sabiá deu um pulinho, abriu o bico e cantou. Cantou como só cantam os sabiás, garganteando os trinos mais melodiosos e límpidos. Uma pura maravilha, que deixou mergulhado em êxtase o auditório em peso.
 -Agora eu! disse a gralha, dando um passo à frente. E abrindo a bicanca matraqueou uma grita de romper os ouvidos aos próprios surdos. Terminada a justa, o meretíssimo juiz deu a sentença:
 -Dou ganho de causa à excelentíssima senhora dona gralha, porque canta muito mais forte que mestre sabiá.

 Moral da história: "Quem burro nasce, togado ou não, burro morre".

                                                                 (Monteiro Lobato. Livro Fábulas, 1922)