quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Romantismo - Poesia

 Na Europa, a partir da metade do século XVIII, surgiram autores que apresentaram novas concepções literárias. Em suas obras, eles expressaram sentimentos inspirados nas tradições nacionais, falavam de amor, e saudade num tom pessoal. Era o surgimento do Romantismo que foi desenvolvendo-se, e enriquecendo-se à medida que se expandia. Desta forma, acabou adquirindo características diferentes.
 No Brasil, era cada vez maior o desejo de uma literatura nacional. Assim apresentou-se a primeira tentativa consciente de se produzir literatura verdadeiramente brasileira, abandonando o tom lusitano em favor de um estilo mais parecido com a fala brasileira, principalmente porque a proclamação da Independência ocorreu e houve um desejo cada vez maior de desvincular a linguagem brasileira da lusitana.
 Principais características do Romantismo:

  • Exaltação dos sentimentos pessoais;
  • Exaltação do "eu" - subjetivismo;
  • Expressão dos estados da alma, paixões e emoções;
  • Desejo de liberdade, igualdade, valorização da natureza (poder de Deus, refúgio acolhedor para o homem que foge dos vícios e corrupções da vida em sociedade.
  • Fuga da realidade através da arte.
Transformação da linguagem, composições de metro fixo não eram mais utilizadas, os românticos preferiram uma linguagem simples, criando ritmos novos e variando as formas métricas.

 A poesia romântica brasileira foi esquematizada em três modos:

  Primeira geração - Indianista ou Nacionalista

 Na Europa, os escritores valorizavam os tempos da Idade Média, valorizando os heróis que ajudaram a libertar suas nações. No Brasil "nossos heróis" eram os índios, símbolos da nossa liberdade, valentes e nobres, livres das corrupções sociais e dos vícios da civilização branca.

 Segunda geração - Mal do século

 Byroniana ou ultra-romântica

 Temas amorosos levados ao extremo, poesias marcadas por um profundo pessimismo, tristeza e visão decadente da vida e da sociedade. Também aborda o amor platônico (fuga do real, sonho e fantasia), individualismo, a morte e seus mistérios.

 Terceira geração

 Condoreirismo

 Poesia social e libertária (abolicionista), "geração hugoana", poeta francês Victor Hugo - defesa do ser humano oprimido (no Brasil, o escravo). Linguagem vibrante, metáforas, antíteses, hipérboles empregados em elementos da natureza, que sugerem imensidão e força. Condoreirismo originou-se do condor, ave de voo alto capaz de enxergar à distância. A poesia amorosa é mais sensual, aparece em um clima de erotismo e paixão.  

 Trechos do poema: O canto do guerreiro - Indianista (Gonçalves Dias)

 Aqui na floresta
 Dos ventos batida,
 Façanhas de bravos   
 Não geram escravos, (ideal de liberdade)
 Que estimem a vida
 Sem guerra e lidar.
 -Ouvi-me, Guerreiros, (vocativo)
 -Ouvi meu cantar.

 Valente na guerra
 Quem há, como eu sou?
 Quem vibra o tacape
 Com mais valentia?
 Quem golpes daria
 Fatais, como eu dou?
 -Guerreiros, ouvi-me;
 -Quem há, como eu sou?

 Quem guia nos ares
 A frecha implumada,
 Ferindo uma presa,
 Com tanta certeza,
 Na altura arrojada
 Onde eu a mandar?
 -Guerreiros, ouvi-me,
 -Ouvi meu cantar.
 .................................

 Nestes trechos do poema, Gonçalves Dias usou versos com ritmos (existe musicalidade no poema), o uso de travessão no poema é para reforçar a emoção do poeta, os pontos de interrogação também. Guerreiros com letra maiúscula na primeira estrofe, é um símbolo, um significado especial aos índios.

 Poema: Soneto - Geração Mal do Século (Álvares de Azevedo)

 Pálida à luz da lâmpada sombria,
 Sobre o leito de flores reclinada,
 Como a lua por noite embalsamada,
 Entre as nuvens do amor ela dormia!

 Era a virgem do mar! Na escuma fria,
 Pela maré das águas embaladas!
 Era um anjo entre as nuvens d'alvorada
 Que em sonhos se embalava e se esquecia!

 Era mais bela! O seio palpitando...
 Negros olhos as pálpebras abrindo...
 Formas nuas no leito resvalando...

 Não te rias de mim, meu anjo lindo!
 Por ti - as noites eu velei chorando,
 Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!

 Este poema tem: subjetividade (egocentrismo), sentimentalismo, idealização da amada, amor platônico, mulher vista como um anjo, ela é inatingível, virgem.
 A abertura e o encerramento da primeira estrofe deste soneto, se dá com dois vocábulos polissêmicos: Pálida e dormia. Essa polissemia (uma palavra com mais de um sentido), processa a ambiguidade poética do soneto, ao mesmo tempo em que a amada do poeta é virgem, pura, ele a descreve em certos trechos do poema uma erotização da sua musa. A idealização da mulher é particularizada, subjetiva. Amor e felicidade são ideais impossíveis.

  Trechos do poema Navio Negreiro - Condoreirismo (Castro Alves)

 'Stamos em pleno mar...Doudo no espaço
 Brinca o luar - dourada borboleta;
 E as vagas após ele correm...causam
 Como turba de infantes inquieta

 'Stamos em pleno mar...Do firmamento
 Os astros saltam como espumas de ouro...
 O mar em troca acende as ardentias,
 -Constelações do líquido tesouro...

 .........................................................

 Era um sonho dantesco...o tombadilho
 Que das luzernas avermelha o brilho.
 Em sangue a se banhar.
 Tinir de ferros...estalar de açoite...
 Legiões de homens negros como a noite,
 Horrendos a dançar...

 Negras mulheres, suspendendo às tetas
 Magras crianças, cujas bocas pretas
 Rega o sangue das mães:
 Outras moças, nuas e espantadas,
 No turbilhão de espectros arrastados,
 Em ânsia e mágoa vãs!

 ...........................................................

 Fatalidade atroz que a mente esmaga!
 Extingue nesta hora a brigue imundo
 O trilho que Colombo abriu nas vagas,
 Como um íris no pélago profundo!
 Mas é infâmia demais!...Da etérea plaga
 Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
 Andrada! arranca esse pendão dos ares!
 Colombo! fecha a porta dos teus mares!

 Podemos observar nestes trechos do poema que Castro Alves denunciava a desumanidade cometida nos navios negreiros, era uma forma de "desabafo" à indignação do poeta contra as tiranias e opressões. é um tipo de poesia onde predominam as comparações, metáforas, antíteses, hipérboles e apóstrofes, empregadas em função de elementos da natureza que sugerem imensidão, força e majestade.







                                                

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Arcadismo

 No século XVIII na Europa apresentou- se uma fase de transformação cultural. Houve uma valorização da razão como progresso social e cultural. Essas ideias de racionalismo eram opostas às ideias religiosas do Barroco, que foram consideradas retrógradas. Contra os exageros do estilo Barroco, os autores resolveram propor uma literatura simples, espontânea, voltada à natureza, paisagens campestres, pastores e pastoras vivendo uma existência sadia. Arcadismo origina-se de uma região da Grécia chamada Arcádia, segundo a mitologia pastores viviam uma vida de amor e poesia.
 Outras características do Arcadismo:
  •  O uso de pseudônimos de pastores latinos ou gregos;
  •  Desprezo em morar nos centros urbanos (fugere urbem - fugir da cidade);
  •  Carpe diem - viver o momento;
  •  Reação ao exagero Barroco;
  •  A literatura é fácil de ser entendida;
  •  O Arcadismo também é conhecido como Neoclassicismo (inspiração na sobriedade dos poetas clássicos do Renascimento e Antiguidade grega e latina.
 Poema de Tomás Antônio Gonzaga

 Lira XVI

 Minha bela Marília, tudo passa;
 a sorte deste mundo é mal segura;
 se vem depois dos males a ventura,
 vem depois dos prazeres a desgraça.
     Estão os mesmos deuses
 sujeitos ao poder do ímpio fado:
 Apolo já fugiu do céu brilhante,
      já foi pastor de gado.

 A devorante mão da negra morte
 acaba de roubar o bem que temos;
 até na triste campa não podemos
 zombar do braço da inconstante sorte:
    qual fica no sepulcro,
 que seus avós esgueram, descansado;
 qual no campo, e lhe arranca os frios ossos
     ferro do torto arado.

 Ah! enquanto os destinos impiedosos
 não voltam contra nós a face irada,
 façamos, sim, façamos, doce amada,
 os nossos breves dias mais ditosos.
     Um coração que, frouxo,
 a grata posse de seu bem difere,
 a si Marília, a si próprio rouba,
     e a si próprio fere.

 Ornemos nossas testas com as flores,
 e façamos de feno um brando leito;
 prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
 gozemos do prazer de sãos amores.
     Sobre as nossas cabeças,
 sem que o possam deter, o tempo corre:
 e para nós, o tempo que se passa,
    também, Marília, morre.

 Com anos, Marília, o gosto falta,
 e se entorpece o corpo já cansado;
 triste, o velho cordeiro está deitado,
 e o leve filho, sempre alegre, salta.
     A mesma formosura
 é dote que só goza a mocidade:
 rugam-se as faces, o cabelo alveja,
     mal chega a longa idade.

 Que havemos de esperar, Marília bela?
 que vão passando os florescentes dias?
 as glórias que vêm tarde, já vêm frias,
 e pode enfim mudar-se a nossa estrela.
      Ah! não, minha Marília,
 aproveite-se o tempo, antes que faça
 o estrago de roubar ao corpo as forças,
      e ao semblante a graça!

                                                                ( Apud Candido, Antonio e Castello, J.A. Presença da Literatura
                                                                 Brasileira. v.1, p. 193-94.)


 Podemos observar neste poema:

 - Idealização da mulher amada (Marília);
 - Deus grego (Apolo);
 - Norma poética (todas as estrofes têm 8 versos);
 - A velhice é incerta ("Com os anos Marília, o gosto falta...");
 - Quem tira a felicidade a si fere ("a grata posse de seu bem difere...");
 -Exaltação dos prazeres da vida física ("...gozemos do prazer de são amores.").