quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Segunda fase do Modernismo 1930 - 1945 (poesia)

 Um rico período de construção
 Abandonando o espírito destrutivo e irreverente dos primeiros momentos do Modernismo, a poesia, mais ou menos a partir de 1930, apresenta um gradual amadurecimento.
 Aproveitando a liberdade estética conquistada e elaborando uma linguagem pessoal, os poetas da segunda fase desenvolveram plenamente suas tendências próprias sem a preocupação de chocar ou agredir o público tradicionalista.
 Principais poetas desta fase: Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Augusto F. Schmidt, Henriqueta Lisboa, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Dante Milano, Mário Quintana, Joaquim Cardozo entre outros. Alguns poetas da época anterior se renovaram, como é o caso de Mário de Andrade e Manuel Bandeira.
 Do ponto de vista dos conteúdos, dos significados, a preocupação nacionalista, que foi uma das tônicas principais dos representantes da Semana de 22, alastrou-se e adquiriu novo rigor, na medida em que o Brasil passou a ser visto não "em si" mas no contexto universal do sistema capitalista de que fez parte.
 O caráter construtivo da segunda geração tem face dupla, do ponto de vista estrutural, caracteriza-se por uma revalorização de determinadas formas tradicionais, como o soneto, e ainda uma redução do "vanguardismo" dos primeiros modernistas, conciliando a combatividade de sua linguagem com a necessidade de polissemia, de riqueza, de significados.
 Construção e dimensão universalista são elementos fundamentais de nossa segunda geração modernista.

 Cecília Meireles - A poesia de Cecília Meireles caracteriza-se principalmente pela leveza, pela delicadeza com que tematiza a passagem do tempo , a transitoriedade da vida, a fugacidade dos objetos, que aparecem impalpáveis em seus poemas, influenciados por filosofias orientais e elaborados com linguagem predominantemente sensorial e intuitiva, herdando a linguagem musical do Simbolismo. O sentimento de saudade, melancolia e do tempo que passa, marcada por nota de tristeza e desencanto, revela-se como uma das mais significativas expressões do lirismo moderno.

Retrato

 Eu não tinha este rosto de hoje,
 assim calmo, assim triste, assim magro
 nem estes olhos tão vazios,
 nem o lábio amargo.

 Eu não tinha estas mãos sem força,
 tão paradas e frias e mortas;
 eu não tinha este coração 
 que nem se mostra.

 Eu não por esta mudança,
 tão simples, tão certa, tão fácil:
 -Em que espelho ficou perdida a minha face?

 Presença da primeira pessoa: "eu lírico" descrevendo o próprio rosto.
 Advérbio de negação e pronome demonstrativo = passagem de tempo e transitoriedade da vida. Melancolia do "eu lírico".
 Há também o uso seguido da palavra "assim", dando ritmo lento ao verso, como se a passagem do tempo fosse imperceptível para o "eu lírico".
 Cecília Meireles, abordou o tema da transitoriedade da vida, sua passagem de maneira filosófica, universal, recebendo influências do grupo espiritual ao qual pertenceu.


 Vinícius de Moraes - Crítico cinematográfico, exerceu também a carreira diplomática. Foi  um dos poetas mais famosos do Brasil, principalmente pela projeção adquirida por sua ligação com a Bossa Nova. A sua poesia denota certa impregnação religiosa, com poemas longos, de acentos bíblicos, mas que abandonou pouco a pouco em favor de sua tendência natural: A poesia intimista, pessoal, voltada para o amor físico, com uma linguagem ao mesmo tempo realista, coloquial e lírica.

Soneto de separação

 De repente do riso fez-se o pranto
 silencioso e branco como a bruma
 e das bocas unidas fez-se a espuma
 e das mãos espalmadas fez-se o espanto.

 De repente da calma fez-se o vento
 que os olhos desfez a última chama
 e da paixão fez-se o pressentimento
 e do momento imóvel fez-se o drama.

 De repente, não mais que de repente
 fez-se de triste o que se fez amante
 e de sozinho o que se fez contente

 fez-se do amigo próximo o distante
 fez-se da vida uma aventura errante
 de repente, não mais quis que de repente.

 A forma soneto, os verbos decassílabos e as rimas regulares associam-se à musicalidade, às aliterações (silencioso e branco como a bruma), fazendo-se pensar no Simbolismo.


 Carlos Drummond de Andrade - Sua obra tem um gradual processo de investigação da realidade humana. Desde os primeiros livros, delineiam-se as linhas básicas de sua poesia: visão crítica das relações sociais e humanas, frequentemente expressa em tom irônico, e certo desencanto com relação à vida, recusando-se a um envolvimento sentimental. Durante os anos da Segunda Guerra Mundial, sua poesia participante atingiu grande intensidade no livro A Rosa do Povo, com o poeta reconhecendo a necessidade de se integrar no seu tempo, de caminhar de "mãos dadas". Pouco a pouco, porém, a participação social através da poesia foi cedendo lugar a uma visão cada vez mais desiludida, em que a esperança num novo tempo é substituída por uma resignação madura diante da falta de solidariedade e justiça. Ao mesmo tempo, o poeta mergulha em seu passado, buscando na infância as origens desse seu modo introspectivo; isso se manifesta claramente nos poemas em que trata do pai, da vida antiga em Itabira (Cidade mineira em que nasceu). Além de poeta, Drummond escreveu contos e crônicas.

 Poema de Sete Faces

 Quando nasci, um anjo torto
 desses que vivem na sombra
 disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida.
 (...)
 Mundo mundo vasto mundo,
 se eu me chamasse Raimundo
 seria uma rima, não seria uma solução.
 Mundo mundo vasto mundo,
 mais vasto é meu coração.

 No Meio do Caminho

 No meio do caminho tinha uma pedra
 tinha uma pedra no meio do caminho
 tinha uma pedra
 no meio do caminho tinha uma pedra.

 Nunca me esquecerei desse acontecimento
 na vida de minhas retinas tão fatigadas.
 Nunca me esquecerei que no meio do caminho
 tinha uma pedra
 tinha uma pedra no meio do caminho
 no meio do caminho tinha uma pedra.

 José

 E agora, José?
 A festa acabou,
 a luz apagou, 
 o povo sumiu, 
 a noite esfriou,
 e agora José?
 e agora, você?
 você que é sem nome,
 que zomba dos outros, 
 você que faz versos,
 que ama, protesta?
 e agora José?
 (...)
 Sozinho no escuro
 qual bicho-do-mato
 sem teogonia,
 sem parede nua
 para se encostar, 
 sem cavalo preto 
 que fuja a galope,
 você marcha, José!
 José, para onde?

 O poema Sete Faces é significativo da primeira fase da poesia de Drummond, onde o poeta se coloca como um "gauche", um desajeitado, cujo coração - mais vasto que o mundo transborda. Mas transborda com ironia, humor, sarcasmo.
 No meio do caminho, por sua vez, é o poema mais "antipoético" da literatura brasileira , ilustra a travessia do poeta entre o individual e o social, o coração e o mundo.
 A pedra no caminho, é o obstáculo que distancia o sujeito do objeto, o homem de seus sonhos, marca o itinerário poético de Drummomd, cada vez mais dirigido ao real.
 José, é o "beco sem saída", a consciência da solidão, da vontade de não continuar. Oscilação entre o coração e o mundo, querer fugir sem ter para onde.


 Jorge de Lima - De modo geral, a crítica costuma reconhecer quatro fases na evolução poética de Jorge de Lima: a parnasiana do livro XIV Alexandrinos, do qual se destaca o soneto "O acendedor de lampiões"; de 1927 a 1932, estava presente o tema das recordações da infância passada no nordeste. É desta fase o poema "Nega Fulô". Logo depois dessa preocupação regionalista, Jorge de Lima passou a escrever poemas de caráter religioso e místico; esta temática continuou em textos esparsos  e nos livros A túnica inconsútil, Anunciação e Encontro de Mira-Celi. O tema das recordações dos escravos e do misticismo africano reapareceu em Poemas negros. Sua última obra, Invenção de Orfeu, é um longo poema com características épicas que expressa simbolicamente uma profunda reflexão sobre a vida humana e o universo.

 Pai João

 Pai João secou como um pau sem raiz.-
Pai João vai morrer.
Pai João remou nas canoas.-
Cavou a terra.
Fez brotar do chão a esmeralda,
Das folhas - café, cana, algodão.
Pai João cavou mais esmeraldas
Que Pais Leme.
A filha de Pai João tinha um peito de
Turina para os filhos de Ioiô mamar:
Quando o peito secou a filha de Pai João
Também secou agarrada num
Ferro de engomar.
A pele de Pai João ficou na ponta
Dos chicotes.
A força de Pai João ficou no cabo
Da enxada e da foice.
A mulher de Pai João o branco
A roubou para fazer mucamas.
O sangue de Pai João se sumiu no sangue bom
Como um torrão de açúcar bruto
Numa panela de leite.-
Pai João foi cavalo pra os filhos de Ioiô montar.
Pai João sabia histórias tão bonitas que
Davam vontade de chorar.
Pai João vai morrer.
Há uma noite lá fora como a pele de Pai João.
Nem uma estrela no céu.
Parece até mandinga de pai João.


  Murilo Mendes-  Procurando incorporar uma visão global do ser humano na sua poesia, a linguagem de Murilo Mendes caminhou por diversos rumos, explorando profundamente as potencialidade linguísticas e exigindo sempre do leitor uma participação ativa na decifração de seus textos. Essa preocupação com a linguagem era uma constante fundamental de Murilo Mendes, para quem a poesia era "o pão quotidiano de todos, uma aventura simples e grandiosa do espírito".

Aproximação do terror

Dos braços do poeta
Pende a ópera do mundo
(Tempo, cirurgião do mundo) :

O abismo bate palmas,
A noite aponta o revólver.
Ouço a multidão, o coro do universo,
O trote das estrelas
Já nos subúrbios da caneta:
As rosas perderam a fala.
Entrega-se a morte a domicílio.
Dos braços...
pende a ópera do mundo.





Link do vídeo do meu canal do Youtube para complemento do estudo:




















                                                                                                  




domingo, 5 de dezembro de 2010

A primeira fase do Modernismo (1922 - 1930)

 Primeira fase do Modernismo - Período de agitação, com a primeira geração modernista preocupada em difundir novas ideias, não recuando diante das polêmicas e exibindo em muitas obras um tom agressivo e irônico com relação à literatura tradicionalista.
 A primeira semana do novo Brasil - A Semana de Arte Moderna durou três dias e reuniu poetas, escultores, pintores, músicos e intelectuais ligados à "Nova Arte". Iniciou-se calma, com a palestra "A estética na arte moderna", exposta por Graça Aranha, um dos padrinhos do evento. A confusão durou dois dias depois, na palestra de Menotti del Picchia ("Queremos luz, ar, ventiladores, aeroplanos, reivindicações obreiras, idealismos, motores, chaminés de fábricas, sangue, velocidade e sonho na nossa arte", disse ele). A conferência abriu claramente a caça ao "passadismo", a plateia se conteve e não vaiou. Minutos depois houve uma vaia estrondosa.
 Os modernistas não foram vítimas inocentes, as vaias faziam parte do espetáculo, alguns estudiosos acham que os modernistas contrataram gente para uivar contra eles. A vaia era o mais caro sinal de reconhecimento.
 O Manifesto Antropofágico - Um fato importante pela polêmica que provocou foi a exposição de pintura moderna feita por Anita Malfatti nos meses de dezembro de 1917 e janeiro de 1918, em São Paulo. A pintura teve importância fundamental não apenas no advento da Semana de Arte Moderna como também na eclosão de todo o movimento modernista que veio a seguir. Voltando de uma viagem à Europa e aos Estados Unidos, onde entrara em contato com a arte moderna, Anita Malfatti, incentivada por alguns amigos, resolveu expor suas últimas obras. No acanhado meio artístico paulistano, a exposição provocou comentários variados, tanto a favor como contra. Entretanto o que realmente desencadeou a polêmica em torno não só da pintora mas principalmente da questão da validade da nova arte, foi um artigo escrito por Monteiro Lobato, que ficou conhecido por "Paranoia ou mistificação?"
 Essa crítica precipitada de Monteiro Lobato provocou ressentimentos em Anita Malfatti e, ao mesmo tempo, despertou uma atitude de simpatia de um grupo de artistas jovens com relação a ela, resultando manifestações de repúdio às concepções tradicionalistas de arte.
Abaporu, o antropófago, obra de Tarsila do Amaral - amiga de Anita Malfatti e apoiava o movimento modernista.


O Homem amarelo, de Anita Malfatti, obra considerada feia e de mal gosto pelos tradicionalistas.

Principais autores e obras:  

 Mário de Andrade - Foi um pesquisador que se interessou pelas mais variadas manifestações artísticas. Professor de piano, estudou e escreveu sobre folclore, música, pintura e literatura, sendo um dos mais dinâmicos batalhadores pela renovação da arte brasileira. De toda sua obra destacam-se:
  Poesia: - Há uma gota de sangue em cada poema, Paulicéia desvairada, Losango cáqui, Clã do jabuti, Remate de males;
  Prosa: - Primeiro andar; Amar, verbo intransitivo; Macunaíma; Belazarte; Contos Novos; A escrava que não é Isaura; Aspectos da literatura brasileira; O empalhador de passarinho.

 Macunaíma - É chamado de rapsódia(inspiração folclórica) por Mário de Andrade, o livro é construído a partir de uma série de lendas a que se misturam superstições, provérbios e anedotas. O tempo e o espaço não obedecem a regras de verossimilhança e o fantástico se confunde com o real durante toda a narrativa.
 O material de que se serviu o autor, é de origem europeia, ameríndia e negra, pois Macunaíma nasce índio-negro, fica depois de olhos azuis. A ausência de caráter do "herói", sua preguiça e malícia, seu individualismo, tudo isso pode ser visto como o resultado confuso de várias influências culturais mal assimiladas, nesse sentido Macunaíma passa a constituir uma espécie de personificação do Brasil.
 O enredo central, frequentemente interrompido pela narração de "casos" ou lendas, é bem simples: Macunaíma tenta reaver o amuleto que ganhara de sua mulher Ci, Mãe do Mato, único amor sincero de sua vida, e que por desgosto pela morte do filho pequeno subiu aos céus e transformou-se na estrela Beta do Centauro. Macunaíma perdera esse amuleto prodigioso que ficou em poder do gigante Piaimã que se encontrava em São Paulo. Depois de vária façanhas junto com seus irmãos Maanape e Jiguê, recupera o amuleto (a muiraquitã). Após mais algumas aventuras, agora sozinho pois os irmãos haviam morrido, Macunaíma enganado pela Uiara (divindade que vive nos rios e lagos) , perde a muiraquitã e fica todo machucado, perdendo uma perna.
 Desiludido, resolve abandonar este mundo e subir aos céus, onde é transformado em constelação. É um herói capenga que se aborrecia de tudo, vaga solitário no campo vasto do céu.

 Oswald de Andrade - A poesia de Oswald de Andrade é um exemplo de renovação na linguagem literária. Fugindo aos modelos literários da época, ele construiu uma poesia original, com muito humor e ironia, numa linguagem coloquial que surpreende pela maestria com que o autor soube utilizar as potencialidades da língua portuguesa. A poesia de Oswald de Andrade repudia o purismo, a linguagem quotidiana está incorporada às suas poesias, não gostava de obedecer e copiar os padrões tradicionalistas.
 Poesia: Pau-Brasil; Primeiro caderno do aluno de poesia de Oswald de Andrade; Poesias reunidas.
 Prosa: Memórias sentimentais de João Miramar; Serafim do exílio; Estrela de absinto; Marco Zero I - A revolução melancólica; Marco zero II - Chão.
 Teatro: O homem e o cavalo; A morta; O rei da vela.

 Trechos do poema Pau-Brasil:

                  3 de maio
 Aprendi com meu filho de dez anos
 Que a poesia é a descoberta
 Das coisas que eu nunca vi.

 O verso livre, o tom de prosa, a simplicidade da linguagem e a síntese, são os principais elementos de modernidade deste poema metalinguístico, poesia sobre a poesia. Há sugestão de poesia como ingenuidade, magia, liberdade, universo infantil(não há fronteira entre sonho e liberdade).


 Pronominais

 Dê-me um cigarro
 Diz a gramática
 Do professor e do aluno
 E do mulato sabido 


 Mas o bom negro e bom branco
 Da Nação Brasileira
 Dizem todos os dias
 Deixa disso camarada
 Me dá um cigarro.

 A valorização da linguagem coloquial, próxima da vida, popular, opõe a gramática, o professor, o mulato sabido e o aluno.


 O capoeira
 -Qué apanhá sordado?
 -O Quê?
 -Qué apanhá?
  Pernas e cabeças na calçada.

 A ideia de luta é sugerida apenas por um diálogo rápido, tipicamente popular num estilo sintético. Este trecho  foi construído com transposição de técnica de cinema, montagem de cenas na tentativa de descontinuidade para causar a impressão de imagens simultâneas para o texto literário.


 Relicário
 No baile da Corte
 Foi o Conde d'Eu quem disse
 Pra Dona Benvinda
 Que farinha de Suruí
 Pinga de Parati
 Fumo de Baependi
 É comê bebê pitá e caí

 Este trecho do poema é representativo da proposta Pau-Brasil de poesia de exportação. Reconta momentos significativos da história do Brasil de maneira irônica.


 Manuel Bandeira - Sua linguagem coloquial e irônica atinge maior grau em Libertinagem. A ânsia de libertação e ausência dolorosa de figuras familiares estão presentes em "Vou-me embora pra Pasárgada", "Poema de Finados", "Evocação de Recife", "Profundamente". Nas outra obras, apareceram o desenvolvimento das linhas temáticas como saudade da infância, a presença da morte, a fugacidade da vida e do amor.

 Poesia: A cinza das horas; Carnaval; Ritmo dissoluto; Libertinagem; Estrela da manhã; Lira dos cinquent'anos; Mafuá do malungo etc.

Prosa: Crônicas da província do Brasil; Itinerário de Pasárgada; Andorinha, andorinha; Os reis vagabundos e mais 50 crônicas.

  Pneumotórax                

 Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
 A vida inteira que podia ter sido e não foi.
 Tosse, tosse, tosse.

 Mandou chamar o médico:
 - Diga trinta e três -
 - Trinta e três...trinta e três...trinta e três...
 - Respire...
 ...............................................................
 O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
 - Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
 - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
                                                                                                      (Libertinagem)



 Este é um poema que tematiza a tuberculose, que assombrou toda a vida de Manuel Bandeira, criando a expectativa da morte. Os versos em prosa intercalam causa e consequência: Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos, os sintomas concretos da doença.
 O epsódio do médico, exemplo da presença da matéria normalmente antipoética, a ironia trágica e desesperada, mas mesmo assim lírica, delicada. No final pneumotórax , única esperança de cura é sugerido tocar um tango argentino é assumir poeticamente que não há cura possível e assim preparar-se para a morte. 




 Antônio de Alcântara Machado - Antônio de Alcântara Machado não participou da Semana de 22, mas foi um dos mais ativos escritores do movimento modernista tendo colaborado nas revistas Terra Roxa, Outras Terras, Revista de Antropofagia e Revista Nova.
 Antônio de Alcântara Machado, ao se interessar por essa vida quotidiana tão ausente de nossa literatura, realizava uma das aspirações do Modernismo, que era o desejo de representar a nova realidade social e urbana do começo do século XX.

 Deixou um romance inacabado (Ana Maria), crônicas (Pathé Baby e Cavaquinho e Saxofone) e contos (Brás, Bexiga e Barra Funda e Laranja da China) que foram reunidos no livro Novelas paulistanas.























terça-feira, 26 de outubro de 2010

Pré-Modernismo

 Pré-Modernismo - Nas primeiras décadas do século XX, surgiram no Brasil alguns escritores que tiveram uma outra atitude perante a nossa realidade sócio-cultural.
 Expressando uma visão mais crítica dos problemas brasileiros, autores como Monteiro Lobato, Lima Barreto, Euclides da Cunha e Graça Aranha acabaram por antecipar uma das tendências que marcaram o Modernismo, que foi a criação de uma literatura que investigasse e questionasse mais profundamente o Brasil. Por isso, esses autores podem ser considerados pré-modernistas.
 Os autores do período do pré-modernismo expressaram em suas obras a consciência de alguns dos problemas que afetavam a realidade nacional, fazendo a denúncia de certos desequilíbrios sócio-culturais importantes tais como: a difícil situação do sertanejo nordestino, o contraste entre o nível de vida das diversas camadas da sociedade, a decadência e a pobreza de muitas regiões isoladas do interior etc.

 Monteiro Lobato

 Escritor de contos de tendência regionalista e de histórias para crianças, as melhores que se já fizeram no Brasil, empresário de seus livros e fundador de nossa primeira editora ( Editora Monteiro Lobato e Cia.), ele inovou a história da indústria editorial no Brasil, profissionalizou e sistematizou a produção de livros, tudo isso para difundir o gosto pela literatura num país semi-analfabeto.

 Lima Barreto

 O lugar de destaque que ocupa em nossa literatura se deve ao realismo com que representou a sociedade carioca, sobretudo, o povo sofrido dos subúrbios. Marginalizado pelas elites literárias, Lima Barreto expressou em sua própria linguagem essa marginalidade: em vez do excessivo rebuscamento e cuidado gramatical que dominava a literatura da época, seu estilo é simples e comunicativo, tendo sido considerado, por seus contemporâneos, um escritor desleixado. A semana de Arte Moderna de São Paulo passou sem que suas obras fossem citadas, nem os rebeldes paulistas reconheceram o talento do escritor rebelde e incompreendido.

 Euclides da Cunha

 Euclides da Cunha publicou em 1902, Os Sertões, baseado nas pesquisas e reportagens feitas para o jornal paulista, causando um grande impacto pela originalidade da obra, exuberância de seu estilo e pela corajosa crítica às ações do Exército.

 Enredo de Os Sertões

  A denúncia do crime cometido pela nação contra si própria na Guerra de Canudos é, assim, o grande tema de Os Sertões. Na primeira parte - A Terra - Euclides descreve geograficamente, do geral para o particular, a paisagem, as condições climáticas e pluviais, a estrutura física do Brasil. Centraliza-se no sertão, associando a dureza do seu habitante - Hércules - Quasímodo e aleijão (herói e aleijão) às dificuldades das condições de vida da região.
 Na segunda parte - O Homem - vai comparando, também do geral para o particular, os vários tipos brasileiros. Detem-se no sertanejo e passa à terceira parte - A Luta - onde narra num estilo tortuoso e grandiloquente, a história da resistência heróica de Antônio Conselheiro e de seus correligionários e de seu massacre "aleijão" pelo exército nacional.
 Em Os Sertões, o determinismo cientificista que caracteriza a obra é superado pela atualidade do assunto que trata a obra.

 Graça Aranha

 Graça Aranha era membro da Academia Brasileira de Letras e diplomata, ficou ao lado da nova geração de artistas, foi através do seu apoio ao movimento modernista, eles foram levados à sério pela sociedade, pois Graça Aranha não apreciava o conservadorismo da época.

 Augusto dos Anjos

 Augusto do Anjos é considerado um poeta sem classificação no contexto da literatura brasileira. Isto porque se utilizou em seus poemas vários estilos, usando palavras estranhas e inusitadas em poesias, chocando o leitor. É tipicamente um poeta de transição, utilizou-se de características parnasianas mas procurou um novo caminho para expressar-se.

                                                  Psicologia de um vencido

                                          Eu, filho do carbono e do amoníaco,
                                          Monstro de escuridão e rutilância,
                                          Sofro, desde a epigênesis da infância,
                                          A influência má dos signos do zodíaco.

                                          Profundissimamente hipocondríaco,
                                          Este ambiente me causa repugnância...
                                          Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
                                          Que se escapa da boca de um cardíaco.

                                          Já o verme - este operário das ruínas -
                                         Que o sangue podre das carnificinas
                                         Come, e à vida em geral declara guerra,

                                         Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
                                         E há-de deixar-me apenas os cabelos,
                                         Na frialdade inorgânica da terra!

  



        

                                        
          





segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Parnasianismo e Simbolismo

 Parnasianismo e simbolismo

 Duas concepções poéticas diferentes - Nas últimas décadas do século XIX, a literatura brasileira trilhou novos caminhos, abandonando o exagerado sentimentalismo dos românticos.
 Enquanto na prosa, houve o desenvolvimento do Realismo e do Naturalismo, na poesia presenciamos o surgimento de dois novos movimentos: O Parnasianismo e o Simbolismo.

 Estilo parnasiano

Na França, quando o romance realista - tendo a frente Zola - seguiu para o Naturalismo, seduzido pelo cientificismo da época, a sensibilidade dos poetas, não aceitando bem a imagem do "homem fisiológico", resolveu comprometer-se com o respeito pela arte, pelo ofício e pelo artifício. Um grupo de poetas publicou uma coletânea de versos intitulada Parnaso Contemporâneo, lembrando o nome da montanha da Fócida, Parnaso, consagrada a Apolo e às Musas. Talvez assim pretendessem patentear seu isolamento e sua elevação. Esses poetas e seus seguidores passaram a ser chamados de parnasianos.

 Características das poesias parnasianas:

 -Preocupação formal que se revela na busca da palavra exata, caindo muitas vezes no preciosismo; o parnasiano, confiante no poder da linguagem, procura descrever objetivamente a realidade.
 -Comparação da poesia com as artes plásticas, sobretudo com a escultura.
 -Atividade poética encarada como habilidade no manejo dos versos.
 -Frequentes alusões a elementos da mitologia grega e latina.
 -Preferência por temas descritivos - cenas históricas, paisagens, objetos, estátuas etc.
 -Enfoque sensual da mulher, com ênfase na descrição de suas características físicas.


                                            Última deusa

                    Foram-se os deuses, foram-se, em verdade;
                    Mas das deusas alguma existe, alguma
                    Que tem teu ar, a tua majestade,
                    Teu porte e aspecto, que és tu mesma, em suma.

                    Ao ver-te com esse andar de divindade,
                    Como cercada de invisível bruma,
                    A gente à crença antiga se acostuma
                    E do Olimpo se lembra com saudade.

                    De lá trouxeste o olhar sereno e garço,
                    O alvo colo onde, em quedas de ouro tinto,
                    Rútilo rola o teu cabelo esparso...

                    Pisas alheia terra... Essa tristeza
                    Que possuis é de estátua que ora extinto
                     Sente o culto da forma e da beleza.

                                                                           (Alberto de Oliveira)


                                       A um poeta

                   Longe do estéril turbilhão da rua,
                   Beneditino escreve! No aconchego
                   Do claustro, na paciência e no sossego.
                   Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

                   Mas que na forma se disfarce o emprego
                   Do esforço; e a trama viva se construa
                   De tal modo, que a imagem fique nua,
                   Rica mas sóbria, como um templo grego.

                   Não se mostre na fábrica o suplício
                   Do mestre. E natural, o efeito agrade,
                   Sem lembrar os andaimes do edifício:

                   Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
                   Arte pura, inimiga do artifício,
                   É a força e a graça na simplicidade.

                                                                                 (Olavo Bilac)

 Versificação: Soneto14 versos, 4 estrofes, 2 quartetos e 2 tercetos.
 Versos: decassílabos (10 sílabas poéticas).
 Rima: ABBA/ BAAB/ CDC/ DCD.
 Metalinguistíca: Mensagem como tema. Um poeta dedicando o poema ao poeta. Olavo Bilac dedica a sua poesia a um poeta Beneditino - fala sobre a construção e o "sofrimento" do monge Beneditino na composição dos seus poemas. Composição da poesia: racional, construída a partir do trabalho dos artistas que gostam de usar a razão, a técnica, a lógica e buscam sempre a perfeição formal.


 Simbolismo

 O movimento simbolista também é de origem francesa e seu marco inicial no Brasil é a publicação, em 1893, de dois livros de Cruz e Sousa: Missal (poemas em prosa) e Broquéis (poesias).
 Por seu subjetivismo, o Simbolismo apresenta algumas semelhanças com a poesia romântica, porém a grande diferença reside na linguagem bem mais trabalhada dos simbolistas, que procuram obter variados efeitos rítmicos e sonoros.
 -Preocupação formal que se revela na busca de palavras de grande valor conotativo e ricas em sugestões sensoriais; o simbolista não pretende descrever a realidade, mas sugeri-la.
 -Comparação da poesia com a música.
 -A poesia é encarada como forma de evocação de sentimentos e emoções.
 -Frequentes alusões a elementos evocadores de rituais religiosos (incenso, altares, cânticos, arcanjos, salmos etc.)
 -Preferência por temas subjetivos, que tratem da morte, destino, de Deus etc.
 -Enfoque espiritualista da mulher, envolvendo-a num clima de sonho onde predomina o vago, o impreciso e o etéreo.

 Trechos do poema Antífona de Cruz e Sousa:

 Ó formas alvas, brancas, formas claras
 De lugares, de veves, de neblinas!...
 Ó formas vagas, fluidas, cristalinas...
 Incensos dos turíbulos das aras...

 Formas do amor, constelarmente puras,
 De virgens e santas pavorosas...
 Brilhos errantes, mádidas frescuras
 E dolências de lírios e de rosas...

 Indefiníveis músicas supremas,
 Harmonias da cor e do perfume...
 Horas do ocaso, trêmulas, extremas,
 Réquim do sol que a dor da luz resume...

 Visões, salmos e cânticos serenos,
 Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
 Dormências de volúpticos venenos
 Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...

 Infinitos espíritos dispersos,
 Inefáveis, edênicos, aéreos,
 Fecundai o mistério destes versos
 Com a chamada ideal de todos os mistérios.

 Do sonho as mais azuis diafaneidades
 Que fuljam, que na estrofe se levantem
 E as emoções, todas as castidades
 Da alma do verso, pelos versos cantem.

 O poema Antífona de Cruz e Sousa, apresenta a tematização do mistério, sensações, angústia da dor de existir e elevação do espírito.
 É um poema de cunho e vocabulário religioso como o próprio título - Antífona é um curto versículo recitado ou cantado antes ou depois de um salmo. Palavras como incenso, turíbulos, visões, salmos, cânticos.
 Como característica marcante do Simbolismo, temos a citação de entidades espirituais na tentativa de evocá-las e assim atingir um plano espiritual mais elevado buscando a afastamento da realidade concreta pois o poema não descreve nenhum objeto ou uma situação de um caso de amor, de cultivarem o subjetivismo posto de lado pelos parnasianos.
 O poema não apresenta um esquema de rimas fixo, embora tenha predominância nas estrofes o esquema ABAB, característica parnasiana que os simbolistas não apreciavam. Apresenta rimas ricas, pois aparecem diferentes classes gramaticais (Do sonho as mais azuis diafaneidades - adjetivo), (...se levantem - verbo), (castidades - substantivo), (...cantem - verbo).







     

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Realismo

 Realismo - Realismo é a denominação genérica da reação aos ideais românticos que caracterizou a segunda metade do séculoXIX. De fato, as profundas transformações vividas pela sociedade europeia exigiam uma nova postura diante da realidade; não havia mais espaço para as exageradas idealizações românticas.
 Constituindo uma oposição ao idealismo romântico, o Realismo propõe uma representação mais objetiva e fiel da vida humana. O romance não é mais visto como distração e sim como meio de combate e de crítica às instituições decadentes. O Romantismo exaltava os valores burgueses, o Realismo analisava com impiedosa visão crítica, denunciando a hipocrisia e corrupção da classe burguesa, focalizando suas duas instituições básicas: o casamento e a igreja.
 No Brasil, a literatura realista encontrou boa expressão nas obras dos seguintes autores: Machado de Assis, Raul Pompéia, Aluísio Azevedo, Adolfo Caminha, Domingos Olímpio, Manuel de Oliveira Paiva e Inglês de Sousa.


 Naturalismo - Nas obras dos autores realistas podemos distinguir, frequentemente, algumas características que definem uma tendência chamada Naturalismo.
 O Naturalismo enfatiza o aspecto materialista da existência, vendo o homem como um produto biológico, cujo comportamento é o resultado da pressão do ambiente social. O homem passa a ser encarado pelos instintos (sempre comparados com animais).


 Aluísio Azevedo


 Foi o principal autor realista - naturalista brasileiro, seus principais romances foram: O Mulato, Casa de Pensão e O Cortiço.
 Revelando influências do escritor português Eça de Queirós, Aluísio Assumiu uma posição crítica denunciando a corrupção e a hipocrisia da burguesia e do clero, chamando a atenção para problemas sociais, numa atitude polêmica, de acordo com o espírito combativo da época.


 Enredo de O Cortiço


 Os moradores do cortiço são inquilinos de João Romão, trabalham em sua pedreira e fazem compras em sua taverna, o que significa que dele dependem para tudo, e que ele os explora ao máximo.
 Embora viva com Bertoleza, ex-escrava supostamente alforriada, João Romão,, à medida que vai enriquecendo, pensa em se casar com zulmira, filha de Miranda, a fim de adquirir melhor condição social.
 Um episódio importante do livro é desencadeado pelo aparecimento de Jerônimo e sua mulher Piedade no cortiço. Jerônimo - português conservador, apaixona-se por Rita Baiana, a típica mulata sensual namorada de Firmo, capoeirista morador de outro cortiço - o Cabeça de Gato. Os rivais se enfrentam sendo que Jerônimo é ferido com uma navalhada. Depois, arma uma emboscada e assassina Firmo.
 Há um confronto, então, entre o Cabeça de Gato e o Cortiço de João Romão: neste confronto um incêndio é provocado e fica claro no final do livro que a destruição gerada só trouxe melhorias e prosperidade ao cortiço de João Romão: agora mais próximo de Zulmira e livre de Bertoleza, traída por João Romão, o qual a delata para seus antigos senhores. Bertoleza, ao ser ameaçada de voltar ao cativeiro, suicida-se.


 Raul Pompéia


 Foi romancista, cronista, poeta, contista, cronista e caricaturista. Participou ativamente da imprensa política da época (séc. XIX). Como escritor suas obras foram: O Ateneu, Uma tragédia no Amazonas e Canção sem Metro (poemas em prosa).


 O Ateneu


 Publicado em 1888, O Ateneu é uma das obras mais importantes do nosso Realismo. A ação deste romance transcorre no ambiente fechado e corrupto de um internato, onde convivem crianças, adolescentes, professores e empregados, e a narração dos fatos é feita por Sérgio, ex aluno da escola.
 As recordações e impressões que marcaram sua vida durante os anos que passou no Ateneu constituem a matéria do romance, que adquire um caráter memorialista. Neste sentido, O Ateneu não é uma reprodução da realidade, mas sim o resultado de uma experiência vivida em termos de impressões pessoais. O mundo da escola é sempre visto e retratado a partir da perspectiva particular e deformadora de Sérgio. Desse modo, a instituição, os colegas, os professores e o diretor Aristaco são representados em função de uma ótica caricatural, em que os erros, hipocrisias e ambições são projetados. É uma obra impressionista, o livro concentra-se na descrição das cenas como se tratassem de uma sucessão de quadros.


 Machado de Assis


 Foi o melhor escritor brasileiro do século XIX e um dos mais destacados de toda a nossa literatura. Destacou-se principalmente no romance e no conto, e escreveu também poesia, teatro, crônica e crítica literária.
 Nas obras de Machado de Assis, podemos observar o interesse na análise psicológica dos personagens, um certo humorismo, monólogos interiores e os cortes na ordem linear das narrativas (o autor pausa a história e conversa com o leitor ou volta ao passado para explicar uma situação).
 Seu humor tinge-se, então, de pessimismo, ironia amarga e cruel. A vida surge como um campo de batalha, onde os homens lutam e procuram destruir-se. A religião é uma máscara para encobrir o egoísmo dos indivíduos.


 Enredo de Dom Casmurro


 Bentinho era um menino a quem foi destinada, por promessa da mãe - dona Glória - uma vida religiosa, mas que não conseguiu assumi-la, devido à paixão que sentia por Capitu, sua vizinha.
 Graças à interferência de José Dias, agregado da casa, Bentinho sai do seminário. O namoro entre Bentinho e Capitu se prolonga;o tempo passa. Bentinho se forma em direito, estreita sua amizade com Escobar, ex colega de seminário, e se casa com Capitu, a qual tem uma amiga, Sancha, que se casa com Escobar.
 Então começa o conflito: Escobar morre num acidente. Julgando estranha a forma pela qual Capitu contempla o cadáver e lembrando-se da referência de José Dias aos seus "olhos de ressaca", "olhos de cigana, oblíquos e dissimulados", Bentinho entrega-se ao sentimento de ciúme a ponto de planejar a morte da esposa e do filho - Ezequiel - que julga cada vez mais parecido com Escobar.
 O casa se separa, Capitu e Ezequiel morrem anos depois e Bentinho, cada vez mais fechado em si mesmo, cada vez mais atormentado pelas dúvidas que nunca o abandonam, passa a ser chamado de Casmurro (teimoso,calado,muito fechado,difícil de abordar).










GoAnimate.com: Pequeno comentário sobre Dom Casmurro by Elaine Ruiz

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domingo, 5 de setembro de 2010

Romantismo - prosa

 O início da prosa literária brasileira ocorreu no Romantismo. Com o desenvolvimento de algumas cidades, o entusiasmo pela economia cafeeira, houve uma "explosão cultural". Com a conquista do poder pela burguesia, surgiu a necessidade de democratizar a literatura, tornando-a mais acessível. Os leitores buscavam na literatura apenas distração, torciam pelas suas personagens e sofriam com as desilusões de suas heroínas.

 O romance tem como estrutura a narrativa, não comporta apenas um núcleo e sim várias tramas que se desenvolvem durante a narração da história principal.

 Romance Urbano

 Os romances urbanos são os que desenvolvem temas ligados à vida social, a variedade dos tipos humanos, os problemas sociais e morais decorrentes do desenvolvimento da cidade, tudo serviu de fonte para os nossos romancistas.
 A Moreninha - primeiro romance publicado no Brasil, autor: Joaquim Manuel de Macedo. Este romance durou um ano para ser publicado porque é um romance de folhetim, era publicado capítulo por capítulo no jornal, a protagonista de A Moreninha é Carolina, uma personagem travessa, inquieta, inconsequente e às vezes engraçada; viva e curiosa e em algumas ocasiões impertinente.

 Romance Sertanejo ou Regionalista

 Desejo de explorar e investigar o Brasil do interior fizeram o autor romântico se interessar pela vida e hábitos das populações que viviam distante das cidades. Abria-se assim para o Romantismo o campo do romance sertanejo, que até hoje continua a fornecer matéria à nossa literatura.

 Romance Histórico

 Foi um dos principais meios encontrados pelos românticos para a reinterpretação nacionalista de fatos e personagens de nossa história numa revalorização e idealização de nosso passado.

 Romance Indianista

 Fase do processo de construção da identidade nacional, foi com José de Alencar que o romance indianista se pôs a serviço de uma visão da "nova" sociedade brasileira. Seus livros clássicos, O Guarani e Iracema apresentam os índios como bons selvagens, belos, fortes, livres e subservientes ao branco. Como em Gonçalves Dias, os índios morrem no fim, mas em Alencar, essa morte se realiza numa espécie de altar de sacrifícios e dela emerge o novo Brasil. Iracema, "a virgem dos lábios de mel, cabelo mais negro que a asa da graúna", morre de amor. Peri se deixa tragar pelo dilúvio, sempre servil a sua senhora Ceci, embora o destino desses dois não seja explícito. Em Alencar o índio e a própria natureza brasileira são postos a serviço do nobre conquistador.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Romantismo - Poesia

 Na Europa, a partir da metade do século XVIII, surgiram autores que apresentaram novas concepções literárias. Em suas obras, eles expressaram sentimentos inspirados nas tradições nacionais, falavam de amor, e saudade num tom pessoal. Era o surgimento do Romantismo que foi desenvolvendo-se, e enriquecendo-se à medida que se expandia. Desta forma, acabou adquirindo características diferentes.
 No Brasil, era cada vez maior o desejo de uma literatura nacional. Assim apresentou-se a primeira tentativa consciente de se produzir literatura verdadeiramente brasileira, abandonando o tom lusitano em favor de um estilo mais parecido com a fala brasileira, principalmente porque a proclamação da Independência ocorreu e houve um desejo cada vez maior de desvincular a linguagem brasileira da lusitana.
 Principais características do Romantismo:

  • Exaltação dos sentimentos pessoais;
  • Exaltação do "eu" - subjetivismo;
  • Expressão dos estados da alma, paixões e emoções;
  • Desejo de liberdade, igualdade, valorização da natureza (poder de Deus, refúgio acolhedor para o homem que foge dos vícios e corrupções da vida em sociedade.
  • Fuga da realidade através da arte.
Transformação da linguagem, composições de metro fixo não eram mais utilizadas, os românticos preferiram uma linguagem simples, criando ritmos novos e variando as formas métricas.

 A poesia romântica brasileira foi esquematizada em três modos:

  Primeira geração - Indianista ou Nacionalista

 Na Europa, os escritores valorizavam os tempos da Idade Média, valorizando os heróis que ajudaram a libertar suas nações. No Brasil "nossos heróis" eram os índios, símbolos da nossa liberdade, valentes e nobres, livres das corrupções sociais e dos vícios da civilização branca.

 Segunda geração - Mal do século

 Byroniana ou ultra-romântica

 Temas amorosos levados ao extremo, poesias marcadas por um profundo pessimismo, tristeza e visão decadente da vida e da sociedade. Também aborda o amor platônico (fuga do real, sonho e fantasia), individualismo, a morte e seus mistérios.

 Terceira geração

 Condoreirismo

 Poesia social e libertária (abolicionista), "geração hugoana", poeta francês Victor Hugo - defesa do ser humano oprimido (no Brasil, o escravo). Linguagem vibrante, metáforas, antíteses, hipérboles empregados em elementos da natureza, que sugerem imensidão e força. Condoreirismo originou-se do condor, ave de voo alto capaz de enxergar à distância. A poesia amorosa é mais sensual, aparece em um clima de erotismo e paixão.  

 Trechos do poema: O canto do guerreiro - Indianista (Gonçalves Dias)

 Aqui na floresta
 Dos ventos batida,
 Façanhas de bravos   
 Não geram escravos, (ideal de liberdade)
 Que estimem a vida
 Sem guerra e lidar.
 -Ouvi-me, Guerreiros, (vocativo)
 -Ouvi meu cantar.

 Valente na guerra
 Quem há, como eu sou?
 Quem vibra o tacape
 Com mais valentia?
 Quem golpes daria
 Fatais, como eu dou?
 -Guerreiros, ouvi-me;
 -Quem há, como eu sou?

 Quem guia nos ares
 A frecha implumada,
 Ferindo uma presa,
 Com tanta certeza,
 Na altura arrojada
 Onde eu a mandar?
 -Guerreiros, ouvi-me,
 -Ouvi meu cantar.
 .................................

 Nestes trechos do poema, Gonçalves Dias usou versos com ritmos (existe musicalidade no poema), o uso de travessão no poema é para reforçar a emoção do poeta, os pontos de interrogação também. Guerreiros com letra maiúscula na primeira estrofe, é um símbolo, um significado especial aos índios.

 Poema: Soneto - Geração Mal do Século (Álvares de Azevedo)

 Pálida à luz da lâmpada sombria,
 Sobre o leito de flores reclinada,
 Como a lua por noite embalsamada,
 Entre as nuvens do amor ela dormia!

 Era a virgem do mar! Na escuma fria,
 Pela maré das águas embaladas!
 Era um anjo entre as nuvens d'alvorada
 Que em sonhos se embalava e se esquecia!

 Era mais bela! O seio palpitando...
 Negros olhos as pálpebras abrindo...
 Formas nuas no leito resvalando...

 Não te rias de mim, meu anjo lindo!
 Por ti - as noites eu velei chorando,
 Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!

 Este poema tem: subjetividade (egocentrismo), sentimentalismo, idealização da amada, amor platônico, mulher vista como um anjo, ela é inatingível, virgem.
 A abertura e o encerramento da primeira estrofe deste soneto, se dá com dois vocábulos polissêmicos: Pálida e dormia. Essa polissemia (uma palavra com mais de um sentido), processa a ambiguidade poética do soneto, ao mesmo tempo em que a amada do poeta é virgem, pura, ele a descreve em certos trechos do poema uma erotização da sua musa. A idealização da mulher é particularizada, subjetiva. Amor e felicidade são ideais impossíveis.

  Trechos do poema Navio Negreiro - Condoreirismo (Castro Alves)

 'Stamos em pleno mar...Doudo no espaço
 Brinca o luar - dourada borboleta;
 E as vagas após ele correm...causam
 Como turba de infantes inquieta

 'Stamos em pleno mar...Do firmamento
 Os astros saltam como espumas de ouro...
 O mar em troca acende as ardentias,
 -Constelações do líquido tesouro...

 .........................................................

 Era um sonho dantesco...o tombadilho
 Que das luzernas avermelha o brilho.
 Em sangue a se banhar.
 Tinir de ferros...estalar de açoite...
 Legiões de homens negros como a noite,
 Horrendos a dançar...

 Negras mulheres, suspendendo às tetas
 Magras crianças, cujas bocas pretas
 Rega o sangue das mães:
 Outras moças, nuas e espantadas,
 No turbilhão de espectros arrastados,
 Em ânsia e mágoa vãs!

 ...........................................................

 Fatalidade atroz que a mente esmaga!
 Extingue nesta hora a brigue imundo
 O trilho que Colombo abriu nas vagas,
 Como um íris no pélago profundo!
 Mas é infâmia demais!...Da etérea plaga
 Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
 Andrada! arranca esse pendão dos ares!
 Colombo! fecha a porta dos teus mares!

 Podemos observar nestes trechos do poema que Castro Alves denunciava a desumanidade cometida nos navios negreiros, era uma forma de "desabafo" à indignação do poeta contra as tiranias e opressões. é um tipo de poesia onde predominam as comparações, metáforas, antíteses, hipérboles e apóstrofes, empregadas em função de elementos da natureza que sugerem imensidão, força e majestade.







                                                

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Arcadismo

 No século XVIII na Europa apresentou- se uma fase de transformação cultural. Houve uma valorização da razão como progresso social e cultural. Essas ideias de racionalismo eram opostas às ideias religiosas do Barroco, que foram consideradas retrógradas. Contra os exageros do estilo Barroco, os autores resolveram propor uma literatura simples, espontânea, voltada à natureza, paisagens campestres, pastores e pastoras vivendo uma existência sadia. Arcadismo origina-se de uma região da Grécia chamada Arcádia, segundo a mitologia pastores viviam uma vida de amor e poesia.
 Outras características do Arcadismo:
  •  O uso de pseudônimos de pastores latinos ou gregos;
  •  Desprezo em morar nos centros urbanos (fugere urbem - fugir da cidade);
  •  Carpe diem - viver o momento;
  •  Reação ao exagero Barroco;
  •  A literatura é fácil de ser entendida;
  •  O Arcadismo também é conhecido como Neoclassicismo (inspiração na sobriedade dos poetas clássicos do Renascimento e Antiguidade grega e latina.
 Poema de Tomás Antônio Gonzaga

 Lira XVI

 Minha bela Marília, tudo passa;
 a sorte deste mundo é mal segura;
 se vem depois dos males a ventura,
 vem depois dos prazeres a desgraça.
     Estão os mesmos deuses
 sujeitos ao poder do ímpio fado:
 Apolo já fugiu do céu brilhante,
      já foi pastor de gado.

 A devorante mão da negra morte
 acaba de roubar o bem que temos;
 até na triste campa não podemos
 zombar do braço da inconstante sorte:
    qual fica no sepulcro,
 que seus avós esgueram, descansado;
 qual no campo, e lhe arranca os frios ossos
     ferro do torto arado.

 Ah! enquanto os destinos impiedosos
 não voltam contra nós a face irada,
 façamos, sim, façamos, doce amada,
 os nossos breves dias mais ditosos.
     Um coração que, frouxo,
 a grata posse de seu bem difere,
 a si Marília, a si próprio rouba,
     e a si próprio fere.

 Ornemos nossas testas com as flores,
 e façamos de feno um brando leito;
 prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
 gozemos do prazer de sãos amores.
     Sobre as nossas cabeças,
 sem que o possam deter, o tempo corre:
 e para nós, o tempo que se passa,
    também, Marília, morre.

 Com anos, Marília, o gosto falta,
 e se entorpece o corpo já cansado;
 triste, o velho cordeiro está deitado,
 e o leve filho, sempre alegre, salta.
     A mesma formosura
 é dote que só goza a mocidade:
 rugam-se as faces, o cabelo alveja,
     mal chega a longa idade.

 Que havemos de esperar, Marília bela?
 que vão passando os florescentes dias?
 as glórias que vêm tarde, já vêm frias,
 e pode enfim mudar-se a nossa estrela.
      Ah! não, minha Marília,
 aproveite-se o tempo, antes que faça
 o estrago de roubar ao corpo as forças,
      e ao semblante a graça!

                                                                ( Apud Candido, Antonio e Castello, J.A. Presença da Literatura
                                                                 Brasileira. v.1, p. 193-94.)


 Podemos observar neste poema:

 - Idealização da mulher amada (Marília);
 - Deus grego (Apolo);
 - Norma poética (todas as estrofes têm 8 versos);
 - A velhice é incerta ("Com os anos Marília, o gosto falta...");
 - Quem tira a felicidade a si fere ("a grata posse de seu bem difere...");
 -Exaltação dos prazeres da vida física ("...gozemos do prazer de são amores.").

 

domingo, 25 de julho de 2010

Barroco

O Barroco surgiu no século XVII na Europa, este foi um estilo literário marcado pela linguagem rebuscada, uso de antíteses e paradoxos que expressavam a visão de mundo barroca num tempo em que o homem tentava conciliar a glória e o valor humano despertados pelo Renascimento com as ideias de submissão e pequenez diante de Deus e a Igreja.São situações contraditórias marcantes no Barroco:
Teocentrismo X Antropocentrismo
dúvidas X incertezas
emoção X razão
céu X terra
fé X ciência
No Brasil, dos escritores que manifestaram em suas obras influências barrocas, destacam-se o padre Antônio Vieira(prosa) e Gregório de Matos(poesia).
Análise de trechos dos poemas de Gregório de Matos:

"se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido;
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos deu,como afirmais na sacra história
Antítese: Pecado /perdão

"Mas vejo,que por bela, e por galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda."
Figura do paradoxo.

"Porém,se acaba o Sol, por que nascia?
Se tão formosa a luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?"
Frases interrogativas: Dúvidas e incertezas.
As frases estão em ordem inversa,valorizam a poesia mas retrata a falta de clareza,um indício de incerteza daquilo que se quer.

"É a vaidade, Fábio, nesta vida,
Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada,
Airosa rompe, arrasta presumida."
Este trecho retrata a vaidade do homem, são os desenganos da vida humana metaforicamente retratados.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Quinhentismo

Quinhentismo é uma denominação genérica de todas as manifestações literárias ocorridas no brasil durante o século XVI. Não era literatura do Brasil e sim no brasil que denotava ambições dos europeus(ouro, prata, madeira, ferro).
No Quinhentismo o que demonstrava era o memento histórico, que abrangia uma literatura informativa e literatura dos jesuítas, como principais manifestações literárias do século XVI.
Literatura Informativa (Literatura dos viajantes)- Literatura descritiva sem grande valor literário, era empenhada em fazer um levantamento da terra nova, fauna e sua gente.
"Águas são muitas; infindas.E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveita, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. Porém o melhor fruto, que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar."
(Carta de Caminha).
Literatura dos jesuítas- Principal preocupação dos jesuítas era o trabalho da catequese, objetivo que determinou toda sua produção literária, tanto na poesia quanto no teatro.
José de Anchieta- Anchieta deixou uma grande herança literária: a primeira gramática tupi-guarani, várias poesias no estilo do verso medieval e diversos autos, seguindo o modelo deixado pelo poeta português Gil Vicente, que agregava à moral religiosa católica, os costumes indígenas, sempre com a preocupação de caracterizar os extremos, como o bem e o mal.

"Teme a Deus, juiz tremendo,
Que em má hora te socorra,
em Jesus tão só vivendo,
pois deu sua vida morrendo
para que tua morte morra."
(Auto de São Lourenço, pe.José de Anchieta)

 O poema na areia

 Padre José de Anchieta escrevia poemas na areia, pois era mais fácil para memorizá-los; não havia papel, tinta e caneta.